A Antártida é um continente isolado mas devido à circulação atmosférica global guarda um registo da evolução do paleoclima [1] terrestre escrito nas suas camadas de gelo. Contaminantes como o Chumbo, emitidos nas latitudes médias, depositam-se sobre a Antártida. Este é um contaminante tóxico, presente naturalmente na atmosfera em concentrações muito baixas (região azul do gráfico) e apresenta ainda uma assinatura isotópica [2] distinta que está diretamente relacionada com o tipo de fonte, tornando-o num bom indicador da poluição industrial.
Entre 1650 e 1885 as concentrações de Chumbo aumentaram gradualmente de 0.6 pg/g para 1,8 pg/g [4]. De 1885 a 1900 observaram-se valores máximos que se mantiveram até à década de 1920. Após esta data dá-se um intervalo de valores mínimos que correspondem ao período entre a grande depressão até ao fim da Segunda Guerra Mundial. Daqui para a frente as concentrações aumentaram até 5,7 pg/g (1975), mantendo-se constantes até 1990. No início do Século 21, as concentrações eram mais baixas do que as observadas nos picos do Século XX, mas bem acima dos valores naturais prévios à revolução industrial. Relativamente à queda de neve na Antártida, a mesma tem vindo aumentar, o que pode influenciar a quantidade de Chumbo que foi aí depositada. Não obstante, este facto não explica por si só o aumento das concentrações de chumbo encontradas no continente Antártico.
[1] Paleoclima – Clima de determinado período geológico antigo
[2] O Chumbo tem 4 isótopos naturais estáveis que, com a respetiva abundância natural, são: Pb-204
(1.4%), Pb-206 (24.1%), Pb-207 (22.1%) e Pb-208 (52.4%). Estudos da composição isotópica permitem muitas vezes identificar as fontes de Chumbo
[3] Amostra de gelo/rocha/solo, extraída normalmente através de um tubo oco que permite manter a amostra intacta
[4] Unidade de medida: pg ou picogramas = 10-12 gramas
Fonte:
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McConnell, J.R., Maselli, O.J., Sigl, M., Vallelonga, P., Neumann, T., Anschütz, H.,
Bales, R.C., Curran, M. a. J., Das, S.B., Edwards, R., Kipfstuhl, S., Layman, L., Thomas, E.R.,
2014. Antarctic-wide array of high-resolution ice core records reveals pervasive lead pollution
began in 1889 and persists today. Sci. Rep. 4. doi: 10.1038/srep05848
Autor: Eduardo Amaro