A Antártica é dos ambientes terrestres mais extremos tanto a nível físico como químico. No entanto, no que toca ao carácter dos seus solos, estes apresentam uma grande diversidade, havendo uns mais ricos em nutrientes, normalmente localizados em zonas mais costeiras e outros mais oligotróficos (pobres em nutrientes) localizados nos chamados desertos polares (como é o caso dos Dry Valleys). Devido ao extremismo dascondições ambientais destes desertos (pouco disponibilidade de água, oligotrofia, grande incidência de radiação UV) pensava-se que eram ambientes inóspitos, uma descrição feita pelo capitão Robert Scott em 1903 e que persistiu até aos anos 70. Com os avanços da biologia molecular começou a ser possível detectar-se a presença de microrganismos nestes habitats, verificando-se ainda que se encontravam amplamente distribuídos pelos solos (mesmo naqueles que aparentavam não ter nem água nem matéria orgânica disponível). A estrutura destas comunidades é simples, composta apenas por alguns níveis tróficos (produtores primários como as cianobactérias e degradadores como é ocaso de algumas bacterias e fungos ), no entanto podem ser bastante diversas. Quanto à natureza desta diversidade ainda há muitas questões no ar. Pensa-se que possam ter evoluído in situ, no entanto outros estudos sugerem que alguns indivíduos possam ter vindo de locais distantes agarrados a partículas que se movimentaram por forças eólicas.

E como é que estas comunidades sobrevivem em condições tão extremas?
Para alem das próprias adaptações biológicas, as comunidades podem desenvolver-se em zonas mais protegidas, como é o caso de ambientes líticos: fendas ou interstícios das rochas ou ainda carcaças de focas mumificadas (permitem estabilidade física, maior proteção contra os raios UV e aumentam a disponibilidade de água). Deste modo, estes ambientes apresentam-se como “hot spots” de biodiversidade contribuindo para o aumento da produtividade.
Quais os efeitos das mudanças climáticas nas comunidades microbianas dos desertos
secos da Antártida?
Apesar de imprevisível pensa-se que o aquecimento global possa induzir o crescimento de outros grupos microbianos alterando a competitividade dentro da comunidade, contribuindo para a alteração da biodiversidade que por consequente vai levar a uma alteração da actividade microbiana e dos ciclos biogeoquimicos (são regulados pela actividade biológica). Isto é relevante uma vez que interações pré estabelecidas entre espécies podem actuar como tampões a respostas à mudança dos ecosistemas, no
entanto a alteração dessas interacções pode colocar em causa a integridade destes.

Fonte:
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Cary, S. C., McDonald, I. R., Barrett, J. E., & Cowan, D. A. (2010). On the rocks: the microbiology of Antarctic Dry Valley soils. Nature Reviews Microbiology, 8(2), 129-138. doi: 10.1038/nrmicro2281
Autora: Maria Monteiro