Normalmente, quando uma baleia morre, afunda no oceano – acontecimento denominado whale-fall. Ao chegar ao fundo do oceano – uma zona pouco produtiva – providencia um habitat efémero[1] que oferece abrigo, substrato duro e, mais importante, alimento em excesso, algo raro nas profundezas. Este habitat pode permanecer até cem anos (dependendo do tamanho da baleia) sendo colonizado por uns animais muito específicos, alguns endémicos [2] destas «ilhas orgânicas» e outros (mais raros) que também existem em fontes hidrotermais ou em fontes frias, ambos habitats extremos.
A primeira e única whale-fall descoberta no “Oceano do Sul” remonta a 2010, tendo sido acidental, como a maioria das descobertas desta natureza. A carcaça do animal encontrava-se na zona Este do Mar da Escócia, a uma profundidade de 1444-1447m, estando num estado de decomposição avançada. Uma análise de ADN permitiu inferir que esta pertencia a um individuo de Baleia-minke-antártica (Baleonoptera bonaerensis), cujos ossos tinham sido colonizados por gastrópodes, crustáceos, poliquetas (vermes marinhos), entre outros, tendo-se descoberto algumas espécies novas.
A descoberta desta whale-fall na costa da Antártida foi um passo importante no estudo destes habitats pois, apesar de esta zona do globo ter bastantes baleias, nunca nenhuma carcaça tinha sido encontrada no fundo do oceano. O estudo das suas comunidades colonizadoras ajudou no desenvolvimento do conhecimento destas «ilhas orgânicas», sobre as quais tem havido um esforço global para uma melhor compreensão da sua influência ecológica na fauna mundial.
[1] temporário
[2] só existem neste tipo de habitat
Fonte:
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Amon DJ, Glover AG, Wiklund H, Marsh L, Linse K, Rogers AD, et al. The discovery of a natural whale fall in the Antarctic deep sea. Deep Res Part II Top Stud Oceanogr [Internet]. Elsevier; 2013;92:87–96. doi: 10.1016/j.dsr2.2013.01.028
Autor: José Queirós