Neve e Liquénes Antárticos

O permafrost é o solo (incluindo rocha, matéria orgânica e a água no solo) que permanece a temperaturas inferiores a 0ºC por períodos superiores a 2 anos. A sua fusão pode causar mudanças nas trocas químicas entre o solo e a atmosfera, com a libertação de gases de efeito de estufa, como o dióxido de carbono e o metano.

A neve tem um efeito importante no solo, ajudando a proteger a sua superfície dos efeitos induzidos pela atmosfera (como a erosão causada pelo vento e pelas chuvas, e as trocas de energia), influenciando por sua vez a distribuição espacial do permafrost. Durante o verão austral (estação quente do hemisfério sul), e com a fusão da neve, os neveiros (áreas de acumulação de neve tardia) diminuem de volume. É também nesta altura do ano que a vegetação antártica, composta por plantas de pequeno porte, tem maior oportunidade de se desenvolver. 

De todos os grupos de espécies vegetais (plantas vasculares herbáceas, algas, líquenes, musgos e fungos), o grupo dos líquenes é provavelmente o mais bem adaptado a este clima polar, devido à sua alta tolerância ao frio e à seca.  Um dos subgrupos de líquenes mais abundante na península antártica são os líquenes fruticulosos (do género Usnea), que se parecem a pequeninos arbustos e se agrupam em comunidades que chegam a ocupar extensas áreas.

Uma equipa da Universidade de Lisboa que se dedica ao estudo do permafrost e alterações climáticas na península antártica (uma da regiões no planeta que tem registado maior aumento da temperatura média do ar nas últimas décadas), tem vindo a analisar a relação entre a distribuição geográfica destas comunidades vegetais e as características da neve, através de levantamentos cartográficos e classificação de imagens de satélite.

O resultado de um estudo realizado num sector da Ilha de King George (arquipélago das Shetland do Sul) revela que as comunidades de Usnea spp. instalam-se preferencialmente em superfícies convexas (topografia mais elevada), expostas ao vento, onde há menos condições para a neve se acumular. 

A figura ilustra uma situação onde se pode definir facilmente o limite da acumulação da neve na estação fria, acima do qual os líquenes se encontram, ocupando a topografia mais elevada. Abaixo desta linha, verifica-se o setor com maior acumulação de neve na estação fria, mantendo-se a mancha de neve no verão, na parte mais côncava.

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Fonte: Vieira G., Mora C., Pina P., Schaefer C.. A proxy for snow cover and winter ground surface cooling: Mapping Usnea sp. communities using high resolution remote sensing imagery (Maritime Antarctica)”. Geomorphology 225 (15-11-2014) : 69–75. doi: 10.1016/j.geomorph.2014.03.049

Autora: Ana Salomé

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