Atualizado: 2 de abr. de 2019
As alterações climáticas vão alterar os ecossistemas marinhos. No entanto, a complexidade das cadeias tróficas juntamente com a fraca amostragem na região constrangem os esforços para prever o futuro e, assim, gerir e proteger da melhor forma os recursos marinhos da região. A Península Antártica Oeste (PA Oeste) é o local no planeta Terra onde a temperatura média de inverno esta a aumentar mais rápido e é, por isso, um lugar fundamental e ideal para estudar como os ecossistemas marinhos polares respondem às alterações climáticas. As águas do oceano que banham a PA Oeste têm vindo a aquecer e o oceano é dado como a principal causa da deglaciação observada na região. Este aumento da temperatura provém da intrusão de aguas profundas que é 4 graus centígrados mais quentes que a temperatura da água de superfície da Antártida.
Em parte, devido ao calor e nutrientes fornecidos por esta água de profundidade, a PA Oeste abriga um ecossistema marinho extremamente produtivo, com grandes blooms de fitoplâncton. Observa-se uma transição para um ecossistema dominado por fitoplâncton de menores dimensões, verificando-se ainda uma redução global da biomassa de fitoplâncton na região. Estas alterações observadas foram associadas com o aumento da presença de nuvens (maior cobertura), aumento da profundidade das camadas de mistura [1] e diminuição das zonas de gelo marginal [2]. A diminuição da biomassa e do tamanho das células de fitoplâncton têm consequências directas para as comunidades de zooplâncton herbívoras, especialmente o krill antártico (Euphausia superba). Alterações na composição de zooplâncton têm sido registadas com aumento da população de salpas [3], que são favorecidos neste cenário com fitoplâncton mais pequeno, uma vez que são mais eficientes a consumir células de pequenas dimensões que o krill. Uma vez que o krill é um nível trófico critico entre os produtores primários (fitoplâncton) e os predadores de topo, alterações na estrutura da comunidade de zooplâncton prevê mudanças dramáticas nos níveis tróficos mais elevados (peixes, focas, baleias e pinguins e outras aves marinhas).
Alterações nos predadores de topo têm sido documentadas de forma mais dramática em pinguins da Antártida do género Pygoscelis. Nos últimos 30 anos na região norte da PA Oeste, as populações dependentes de gelo de pinguins-de-adélia (Pygoscelis adeliae) diminuíram 90%, enquanto as populações de pinguins intolerantes ao gelo, Pinguim-de-barbicha (P. Antártica) e Pinguim-gentoo (P. papua), têm vindo a aumentar. Declínios nas espécies polares têm sido relacionados com a diminuição de gelo e os possíveis efeitos sobre a disponibilidade de presas.
Mudanças no clima têm causado um efeito em cascata, com alterações na distribuição de gelo a perturbar as estratégias evolutivas das espécies residentes, levado a alterações na estrutura e abundância das populações, alterando desta maneira a natureza das cadeias alimentares locais e regionais.
[1] camadas de mistura: camada superficial do oceano onde turbulência activa (normalmente ventos) mistura/homogeneíza a agua ate uma determinada profundidade.
[2] zonas de gelo marginal: transição entre o mar aberto e a camada de gelo do mar.
[3] salpas: tunicados gelatinosos
——–
Fonte: Schofield, O., Ducklow, H.W., Martinson, D.G., Meredith, M.P., Moline, M.A. and Fraser, W.R., 2010. How do polar marine ecosystems respond to rapid climate change?. Science, 328(5985), pp.1520-1523. doi: 10.1126/science.1185779
Autora: Filipa Carvalho