Os Albatrozes viajantes (Diomedea exulans), com uma envergadura que pode atingir os 3.2 metros, podem viajar por milhares de quilómetros em oceano aberto, procurando alimento num dos ecossistemas marinhos mais exigentes do mundo. As suas grandes viagens oceânicas, indicam uma capacidade de orientação impressionante e mecanismos sensoriais (visão, olfacto ou navegação com base no campo magnético da terra) muito desenvolvidos e apurados. Os mecanismos de detecção de alimento e a resposta sensorial no comportamento de procura de alimento dos albatrozes viajantes ainda não se encontra completamente compreendido.
Os Albatrozes viajantes parecem usar uma combinação de estratégias visuais e olfactórias para navegar e detectar áreas produtivas no vasto oceano. Eles têm um dos maiores bulbos olfactórios entre as aves marinha e resultados de modelos de comportamento de procura de alimento, desempenhados em ambientes pelágicos, sugerem uma atracção por odores emanados por peixes e lulas. Os albatrozes têm a capacidade de reconhecer e seguir os odores emanados de uma determinada fonte localizada a uma grande distância, como os dimetil sulfitos (DMS) [1], para identificar zonas de grande produtividade em oceano aberto a milhares de quilómetros. Albatrozes e outros procelariiformes (albatrozes, petreis and shearwaters), parecem usar pistas de odor a duas escalas espaciais. A uma escala espacial mais larga, os Albatrozes viajantes podem usar mecanismos olfactórios para identificar as áreas produtivas no oceano e onde provavelmente as presas irão estar. Uma vez localizada a região produtiva, os albatrozes mudam para um modo de detecção visual a uma escala mais pequena, realizando áreas restrictas de procura (ARS)[2] dentro de áreas onde identificaram pistas de presas.
Os Albatrozes viajantes, primeiramente respondem às plumas de odor emanadas, por exemplo dos DMS e uma vez detectadas, eles tomam o caminho mais curto e directo para capturar a sua presa. Foram identificados quatro tipos de padrões de movimento de acordo com as formas tomadas: directo (sem mudanças na direcção da viagem), curvas/zigzag (uma ou mais curvas com mudanças de direcção da viagem >45°), círculos (o albatroz cerca o ponto onde vai capturar a sua presa) e água (a ave permanece na água entre cada evento que captura a sua presa). Os padrões de movimento durante o voo, ocorrem contra o vento em resposta às pistas de odor detectadas no oceano. Os ventos cruzados e perpendiculares aumentam a possibilidade de encontrar plumas de odor e foi testada esta previsão para cada padrão de movimento, ligando a direcção das viagens com a velocidade do vento. Padrões de movimentos de curvas foram preferencialmente orientados contra o vento, enquanto padrões de movimento directo estão orientados a favor do vento.
Estes resultados e as características dos padrões de movimento, reflectem uma estratégia multimodal onde as pistas olfactivas alertam os Albatrozes viajantes para áreas produtivas do oceano em particular ou nas vizinhanças, onde mais tarde a presa é identificada visualmente.
[1] DMS: Dimetil sulfureto ou metiltiometano é um derivado de enxofre insolúvel em água. DMS é o sulfureto biológico mais abundante emitido para a atmosfera. A emissão ocorre nos oceanos pelo fitoplâncton que produz DMS. O DMS tem um cheiro caraterístico normalmente relacionado com couve e tem sido caraterizado como o “cheiro do mar” embora será mais preciso dizer que o DMS é um componente do “cheiro do mar” juntamente com químicos derivados do DMS e feromonas das algas.
[2] ARS: Num ambiente continuamente desigual é esperado que os predadores aumentem o esforço de procura após detetarem a presa devido ao aumento da probabilidade de encontrarem outras presas por perto, antes de continuarem o seu range de exploração e mover-se de uma mancha de recurso para outra.
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Fonte: Nevitt, G.A., Losekoot, M. & Weimerskirch, H. (2008). Evidence for olfactory search in Wandering albatross Diomedea exulans. Proceedings of the National Academy of Sciences, 105(12). doi: 10.1073/pnas.0709047105
Autor: Jorge Pereira
