Declínio a longo termo nos stocks de Krill e aumento das populações de salpas no Oceano do Sul

O Krill Antártico (Euphausia superba) e as salpas (tais como a Salpa thompsoni) são dois dos principais herbívoros do Oceano do Sul . Como qualquer outra espécie, a distribuição destas duas espécies está profundamente ligada às condições ambientais, sendo sensivel às variações das mesmas.

O Krill Antártico é um pequeno crustáceo que, de um modo geral, habita plataformas, frentes de correntes e limites de gelo marinho onde os nutrientes e as condições oceanográficas promovem a produção primária (o fitoplancton do qual se alimenta). A distribuição de Krill está assim correlacionada com concentrações de clorofila e com a extenção das plataformas de gelo. Tal deve-se em particular ao facto de que durante o inverno o Krill alimenta-se de algas que crescem no gelo, sendo este alimento de elevada importancia para o recrutamento das larvas de krill, essenciais para a nova geração da população de Krill durante o ano seguinte. Desde 1970 que se regista uma diminuição dos stocks de Krill , em particular no Sector SO Atlantico do oceano do sul onde o Krill é abundante.

As salpas são tunicatos plantónicos que tipicamente toleram àguas mais quentes e tendêm a popular zonas de produtividade mais baixa, em contraste com o Krill. Tendo em conta que o Oceano do Sul tem mais zonas de produtividade baixa que alta, as salpas tendem têm uma distribuição maior que o Krill. Ainda assim, as salpas têm vindo a aumentar o seu número de individuos e distribuição ao longo do tempo, em particular  em zonas mais a sul (onde as àguas são mais frias mas têm vindo a aquecer).

Em certas regiões, a diminuição de krill (uma espécie que necessita uma grande abundancia de alimento) e o aumento de salpas (que em oposição ao krill, não requer uma grande abundancia de alimento) são coincidentes. A longo termo, estas variações coincidem com um aumento de temperaturas de àguas profundas,  e (a partir  de  ≈1970) com uma diminuição do gelo marinho. No entanto, os mecanismos por trás destas variações são ainda incertos e previsões para o futuro devem ser cautelosas.

O krill é uma espécie chave na rede alimentar Antártica, pelo que ao longo do tempo a diminuição das populações de krill e substituição por populações de salpas tem o potencial de causar efeitos profundos em toda a rede alimentar do Oceano do Sul, em particular para predadores de Krill tais como os pinguins, albatrozes e focas leopardo.

Variações na densidade de Krill ao longo do tempo (a) e variações da densidade de Krill e salpas geográficamente (b e c respectivamente) com esquema de cores de acordo com a legenda.

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Fontes: Atkinson A, Siegel V, Pakhomov EA, Rothery P (2004) Long-term decline in krill stock and increase in salps within the Southern Ocean. Nature 432:100–103. doi: 10.1038/nature02950.1.

Autora: Nadja Velez

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