Rede de câmaras operadas de forma remota: um auxílio para ampliar a monitorização de aves marinhas

O conceito de espécie indicadora é utilizado na Convenção para a Conservação dos Recursos Vivos Marinhos Antárticos (CCMLR) como um dos elementos utilizados para a monitorização e gestão sustentável dos recursos marinhos do Oceano Atlântico.

Desta forma as aves da Antárctida são importantes indicadores dos impactos e alterações dos ecossistemas [1] dos oceanos que a rodeiam. Infelizmente, as populações destas aves marinhas escolhem para nidificar, zonas remotas e isoladas, de difícil acesso à monitorização com os métodos tradicionais. Por essa razão, a observação remota pode representar uma metodologia alternativa de suporte em condições adversas como na Antárctida.

A fotografia é uma forma de observação remota que tem sido utilizada desde há muitos anos na monitorização das espécies. Os biólogos estão agora a considerar a utilização da fotografia remota para monitorizações em grande escala através do estabelecimento de redes de câmaras que tiram sequências de fotografias em intervalos de tempo determinados.

Para testar a sua utilidade e a confiança nas observações remotas os cientistas fizeram um estudo piloto e estabeleceram uma rede de câmaras para monitorizar o pinguim-de-adélia (Pygoscelis adeliae), uma das espécies de ave mais abundante ao longo da costa Este da Antártida, considerada como uma espécie indicadora importante para o  Programa de Monitorização do Ecossistema nessa região.

(A) O pinguim-de-adélia, (B) sistema de câmaras operado de forma remota.

Através das fotografias foi possível comparar os dados da reprodução (i.e., número de casais reprodutores, data de chegada à colónia, postura e eclosão do ovo, número de crias) recolhido com observações diretas ao longo de vários anos, com os dados recolhidos  pela rede de câmaras. Os resultados mostraram que a observação remota para o pinguim-de-adélia é fiável, embora a deteção da data de chegada à colónia e da primeira postura registada pelas câmaras possa não sê-lo sempre. Também as contagens das crias pode variar em relação à data de contagem.

Exemplo do processamento de imagens das câmaras que geralmente ficam a cerca de 20-50 metros da colónia e incluem 30-50 ninhos. A linha amarela delimita a região em que os adultos, os ninhos e as crias são contados. Os pontos amarelos correspondem a adultos que foram contados. As elipses verdes indicam o local dos ninhos ocupados e as elipses vermelhas indicam os ninhos previamente ocupado que estão agora desocupado.

Além disso, os resultados mostraram que a rede de câmaras pode operar com sucesso por longos períodos com manutenção mínima em condições ambientais extremas. A longo prazo, a observação remota mostra-se um meio prático e muitas vezes mais barato quando comparado à monitorização direta.

Comparação das observações recolhidas pelas câmaras e contagens diretas durante duas estações de reprodução usadas para a avaliação das câmaras. Os pontos correspondem a séries temporais de contagem de adultos (cinzento), ninhos ocupados (azul) e crias (vermelho) normalizado a uma contagem de ninhos ocupados no princípio de Dezembro. A linha descontínua vertical mostra a data da primeira chegada (preto) e postura do primeiro ovo (vermelho).

[1] Sistema biológico constituído por uma comunidade de seres vivos e o meio natural em que vivem.

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Fonte: Colin Southwell and Louise Emmerson (2015) Remotely-operating camera network expands Antarctic seabird observations of key breeding parameters for ecosystem monitoring and management. Journal for Nature Conservation 23, 1–8. doi: 10.1016/j.jnc.2014.11.002

Autoras: Letizia Campioni & Edna Correia

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