Mercúrio no Oceano Austral

O mercúrio é um dos elementos mais perigosos do mundo. Durante séculos, o mercúrio foi usado na medicina, como conservante e agente antibacteriano, e também usado largamente na indústria. No entanto, os problemas associados com a sua utilização só foram reconhecidos no século 20 (ex.: doença de Minamata – 1956 , Grão de trigo venenoso do Iraque – 1971). Podemos achar que sendo a Antártida um continente remoto e isolado que estaria “livre” de poluentes antropogénicos, mas através de correntes atmosféricas e oceânicas estes são transportados das fontes até ao Oceano Austral.

As distintas características da atmosfera no polo sul, do Oceano Antártico e do singular gelo marinho, criam uma combinação de condições únicas que pode explicar por que o remoto Oceano Austral tem uma das maiores concentrações de metil-mercúrio [1] em oceano aberto. A presença de halogênios na atmosfera promove a deposição de mercúrio atmosférico no oceano ou na neve (que mais tarde poderá derreter para o mar); O fitoplâncton absorve mercúrio e desta forma este contaminante entra na cadeia alimentar.

O Mercúrio é uma questão preocupante, principalmente quando falamos em predadores (ex.: Albatrozes, Pinguins, Focas, Orcas), devido à sua grande taxa de bioacumulação e bio-ampliação, em alguns animais a concentrações atingem valores demasiado elevados. Por exemplo os Albatrozes viageiros são uma das aves marinhas com maiores concentrações de mercúrio no mundo. O que será um esforço extra em uma espécie que já enfrenta problemas de conservação. Nós não nos podemos esquecer que o que acontece no nosso “quintal” tem um efeito global, o mercúrio é um dos muitos exemplos do impacto global da poluição antropogénica.

[1] Metilmercúrio – uma forma orgânica e altamente bioacumulativa de mercúrio, que é formada a partir de mercúrio inorgânico pela ação de micróbios que vivem em sistemas aquáticos.

Aprende mais sobre o ciclo  do Mercúrio aqui.

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​Fonte:

Bargagli, R. (2008). Environmental contamination in Antarctic ecosystems. Science of the Total Environment, the, 400(1-3), 212–226. doi: 10.1016/j.scitotenv.2008.06.062

Cossa, D., Heimbürger, L.-E., Lannuzel, D., Rintoul, S. R., Butler, E. C. V., Bowie, A. R., et al. (2011). Mercury in the Southern Ocean. Geochimica Et Cosmochimica Acta, 75(14), 4037–4052. doi: 10.1016/j.gca.2011.05.001

Tavares, S., Xavier, J. C., Phillips, R. A., Pereira, M. E., & Pardal, M. A. (2013). Influence of age, sex and breeding status on mercury accumulation patterns in the wandering albatross Diomedea exulans. Environmental Pollution, 181, 315–320. doi: 10.1016/j.envpol.2013.06.032

Autor: José Seco

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