A visão tradicional da Antárctica era a de que seria um continente com uma biodiversidade pobre e limitada por um ambiente hostil. No entanto, nos últimos anos estudos de biodiversidade tem revelado que a vida na Antárctica e no Oceano do Sul é surpreendentemente rica.
Recentemente, as alterações climáticas que se fazem sentir, e que se prevêem para o futuro, têm chamado a atenção para o que poderá vir a acontecer ao nosso planeta quando as regiões polares deixarem de albergar a actual quantidade de gelo. A biodiversidade da Antárctica está tanto em risco devido a mudanças ambientais quanto a do resto do planeta. Compreender como esta biodiversidade se distribui na Antárctica e os mecanismos subjacentes à sua variação espacial é fundamental para fazer face aos desafios futuros.
A Antárctica não é tão isolada nem tão depauperada na sua biodiversidade como se pensava
As frentes oceânicas podem ser permeáveis, com turbilhões de mesoescala que transportam bolsas de água, e respectivos organismos, através delas (figura inferior esquerda). A dispersão de espécies marinhas tem sido facilitada pela Corrente Circumpolar Antárctica (ACC, em Inglês, na figura) e pela Corrente Costeira Antárctica (ACoC), bem como por trajectórias marítimas trans-antárcticas existentes durante alguns períodos interglaciais (figura inferior direita). Os ciclos glaciais têm impulsionado a diversificação, com algumas espécies a sobreviverem confinadas à Antárctica durante os ciclos glaciais – por exemplo em terra, em refúgios como as áreas geotérmicas, ou no oceano em plataformas marinhas – passando por especiação geográfica (figura superior direita). Certas espécies exibem radiação adaptativa como os peixes notothenioides (peixes adaptados ao gelo) que se diversificaram durante períodos de mudança climática (figura superior esquerda). O mapa da Antárctica mostra as posições médias das grandes frentes oceânicas: Frente da Corrente Circumpolar Antárctica do Sul (SACCF), Frente Polar Antárctica (APF), Frente Subantárctica (SAF), Frente Subtropical (STF). Locais de possíveis refúgios geotérmicos terrestres (vulcões e rochas aquecidas) estão indicados por pontos amarelos. A base rochosa da Antárctica (>0 m) está indicada em castanho e a plataforma continental em azul. A diversidade e localização das 15 regiões Biogeográficas de Conservação da Antárctica estão indicadas no painel central à direita.
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Fonte: Chown SL, Clarke A, Fraser CI, Cary SC, Moon KL, McGeoch MA (2015) The changing form of Antarctic biodiversity. Nature 522:431-438. doi: 10.1038/nature14505
Autora: Mafalda Baptista