A observação da Terra a partir do espaço é considerada uma peça fundamental da segunda revolução Copernicana. Na primeira revolução, o Homem cedeu ao egocentrismo para perceber a sua real posição no Universo. Na altura, o telescópio permitiu perceber que somos apenas uma improvável e pequena parte no enorme Universo. Hoje, nesta segunda revolução, os satélites ajudam-nos a melhor perceber a Terra, obrigando a um passo psicológico ainda mais difícil: admitir que sem o devido cuidado podemos comprometer a nossa própria sobrevivência.
As alterações climáticas são uma realidade e os satélites têm ajudado a medir os efeitos do aumento da temperatura global. Para tal, as Nações Unidas definiram várias variáveis que podemos medir de forma sistemática a partir do espaço, recolhendo grandes quantidades de informação. Uma delas é a Cor do Oceano que nos ajuda a perceber a concentração de fitoplâncton na água. Porque o fitoplâncton contém clorofila, uma imagem da superfície da água pode parecer mais esverdeada.
As espécies vegetais são das mais sensíveis às mudanças de temperatura. Da mesma maneira que algumas árvores alentejanas começam a morrer porque os verões estão cada vez mais secos, quentes e longos, também o fitoplâncton responde a diferenças dos padrões climáticos. O fitoplâncton serve de base à cadeia alimentar marinha e é responsável por absorver cerca de metade do dióxido de carbono atmosférico. Nas zonas polares a questão é ainda mais dramática, estas algas têm uma janela de oportunidade muito pequena para poderem reproduzir-se em larga escala, nos chamados blooms. A elevadas latitudes esses blooms dão-se em perfeita harmonia entre o degelo e a maior disponibilidade de luz solar.
Pesquisas anteriores revelaram que, em especial no Ártico, alguns blooms ocorrem 50 dias mais cedo em 2009 em comparação com o ano de 1997 – ano em que o SeaWIFS começou a disponibilizar os primeiros dados. Ora isto trás consequências terríveis para a vida marinha em especial nestas regiões. No sentido de melhorar a forma como monitorizamos o fitoplâncton a partir do espaço, é preciso comparar a cor da água com a concentração de clorofila e outros pigmentos medidos in-situ. A investigação que tem sido feita foca-se primeiramente nos lagos da Finlândia, de onde recolhemos amostras de dezanove lagos e comparámos com imagens de satélites que sobrevoaram aquele local no mesmo dia.
O resultado é uma estimativa da concentração de clorofila que pode ser usada para futuras passagens de satélite. Estes satélites dão uma volta completa ao Planeta em cerca de 90 minutos, pelo que são uma fonte de dados fundamental para estudar a evolução das mudanças nos padrões de vida do fitoplâncton.
Há apenas duas formas de vida visíveis do espaço: a vegetal (terrestre e marinha) e a humana, com as grandes cidades, poluição e desflorestação. É incrível pensar que embora não sejamos o centro do Universo, somos responsáveis pelo nosso futuro daí a importância observar a Terra a partir do Espaço.
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Fontes:
H. Schellnhuber, Earth system’analysis and the second Copernican revolution, Nature, vol. 402,
no.December, pp. 19–22, 1999.
M. Kahru et al. 2011, Are phytoplankton blooms occurring earlier in the Arctic?, Global Change
Biology (2011) 17, 1733–1739, doi: 10.1111/j.1365-2486.2010.02312.x.
Lisboa et al. 2018, Spatial variability and detection levels in Chlorophyll-a estimates using Landsat imagery, submitted.
Autor: Filipe Lisboa