“Tudo considerado, não acredito que na Terra haja pior sorte do que a de um pinguim imperador.”
Apsley Cherry-Garrard, A pior viagem do mundo
A primeira descrição da reprodução do pinguim imperador foi feita por Wilson em 1907. Em 1961, Prévost descreveu que o macho começa a jejuar à chegada à colónia, onde permanece durante o período de acasalamento e de incubação dos ovos até à sua eclosão, o equivalente a um total de 115 dias de jejum. Actualmente, na literatura e em filmes sobre estas aves há numerosas referências a esta dedicação do pinguim imperador macho que, sozinho, incuba o seu ovo durante 115 dias sem se alimentar.

Mas pode acontecer que estes machos, afinal, não fiquem assim tanto tempo sem se alimentarem. Numa rara visita invernal a uma colónia de pinguins, no cabo Washington, Mar de Ross, Antárctica, foi possível marcar 4 aves com localizadores activados por interruptores de água salgada. Desta forma os dados de satélite permitiram saber quando as aves entravam na água e quão distantes da colónia estavam quando o faziam.

Se os pinguins conseguem caçar com sucesso no escuro, o período de jejum poderá ser mais curto do que inicialmente se pensava, o que poderá proporcionar uma maior garantia de que os pinguins aguentam com sucesso todo o período de incubação sem abandonar o ovo. As colónias de pinguins imperadores em altas latitudes do Mar de Ross são das maiores e mais numerosas da Antárctica. A possibilidade de as aves se alimentarem durante o inverno pode ajudar a explicar o vigor de algumas dessas colónias em comparação com as encontradas a latitudes mais baixas. Face ao continuado aquecimento da Antárctica o sucesso dessas colónias de maior latitude pode ser vital.
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Fonte: Kooyman GL, van Dam RP, Hückstädt LA (2018) Night diving by some emperor penguins during the winter breeding period at Cape Washington. Journal of Experimental Biology 2018 221: jeb170795. doi: 10.1242/jeb.170795.
Autora: Mafalda Baptista