Hoje em dia o interesse pelo turismo de vida selvagem tem vindo a crescer muito rápido. A procura de novas e variadas ofertas de experiências por parte do turismo de vida selvagem tem vindo a expandir-se a novas áreas , a novas espécies e através de novas formas de interação. Estas atividades têm a sua preferência em ambientes pristinos e de elevado valor de conservação justificando-se como ecologicamente e socialmente sustentáveis. Mesmo com estes argumentos, qualquer tipo de atividades tem impacto no meio ambiente, sendo a sua extensão variável. Os principais alvos de interesse deste turismo têm sido espécies raras ou em perigo, que são bastante sensíveis a qualquer tipo de distúrbio. Seja ele de forma muito reduzida, há sempre impacto.

Por outro lado, assegurar a sustentabilidade ecológica pode ser a chave crucial para promover um futuro para as espécies e o seu habitat. O turismo de vida selvagem pode ter a capacidade de produzir contribuições económicas positivas para a conservação, uma vez que para muitas comunidades esta tem sido uma forma de sustento e ao mesmo tempo um incentivo para a conservação. É uma forma de turismo que pode afetar o comportamento e a atitude das pessoas, com capacidade de trazer benefícios de forma indireta aos animais e aos seus habitats.

A Raposa-do-Ártico (Vulpes lagopus) é um caso de uma espécie em perigo que tem sido alvo de um interesse crescente por parte deste turismo. Estas são conhecidas por terem uma pelagem branca que funciona como camuflagem, de forma a que estas se misturem em ambientes de tundra. A sua pelagem é adaptada às estações, mudando com estas para uma tonalidade castanha ou cinzenta. Alimentam-se de roedores, aves e peixes, mas no inverno estas presas escasseiam e como tal seguem Ursos-Polares (Ursus maritimus) para se alimentarem dos restos das suas caçadas.

Na Escandinávia estas foram perseguidas pela sua pele e pêlo que tinham grande valor económico. A sua população foi reduzida a números preocupantes e nem mesmo depois de receber proteção legal os seus números subiram. Estas também sofrem de competição direta com a Raposa-Vermelha (Vulpes vulpes), assim como com a redução de disponibilidade de alimento, nomeadamente de roedores.
Para ajudar a sua população, medidas como a caça à Raposa-Vermelha ou a criação de estações de alimentação foram cruciais para os seus números voltarem a aumentar. Atualmente, como a Escandinávia é uma região rica em atividades de lazer, tanto no verão como no inverno, as estações de turismo aproveitam para alertar para a problemática da Raposa-do-Ártico, apostando no turismo de vida selvagem. Os recursos económicos conseguidos através destas atividades são usados posteriormente para comprar comida de cão para, por exemplo, sustentar as estações de comida no verão.
Foram demonstrados que estas atividades trazem impacto no comportamento diurno das raposas do ártico da região, mas não foi observado qualquer impacto negativo no sucesso reprodutivo da mesma, nem foi observado qualquer abandono das tocas durante anos. Existe algum impacto sim, mas muito baixo e só a nível individual. Este impacto também não demonstrou ser extensível a afetar a população.
Os impactos do turismo de vida selvagem são extremamente dependentes do contexto de espécie, variam de indivíduo para indivíduo, de população para população, assim como, por exemplo, com a disponibilidade de alimento. Neste caso, a relação entre impacto positivo e negativo tem sido compensada e tem sido um caso de sucesso, mas mais estudos de monitorização têm de ser realizados ao longo dos anos.
Impactos positivos podem compensar os impactos negativos, mas nunca desfazer o que de errado pode ser feito. O turismo de vida selvagem tem vindo a crescer a olhos vistos e é uma forte forma de ajudar na conservação, mas é de frisar que isto também é um negócio, e como tal, é imprescindível nunca perder o mote do ecologicamente sustentável porque o objetivo final é a conservação e proteção destas espécies e habitats.
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Fontes:
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Buckley, R. C., Castley, J. G., Pegas, F. D. V., Mossaz, A. C., & Steven, R. (2012). A population accounting approach to assess tourism contributions to conservation of IUCN- redlisted mammal species. PLoS ONE, 7(9), e44134. doi: 10.1371/journal.pone.0044134
Cong, L., Wu, B., Morrison, A. M., Shu, H., & Wang, M. (2014). Analysis of wildlife tourism experiences with endangered species: An exploratory study of encounters with giant pandas in Chengdu, China. Tourism Management, 40, 300–310. doi: 10.1016/j.tourman.2013.07.005
Larm, M. (2015). Rapport till Länsstyrelsen Jämtland om STF Helags fjällrävsturer 2015 (Report to the Jämtland County Administration Board about STF Helags Arctic fox safari tours 2015).
Malin Larm, Bodil Elmhagen, Sandra M Granquist, Erika Brundin & Anders Angerbjörn (2017): The role of wildlife tourism in conservation of endangered species: Implications of safari tourism for conservation of the Arctic fox in Sweden, Human Dimensions of Wildlife. doi: 10.1080/10871209.2017.1414336
Autor: Hugo Guímaro