O mercúrio é um elemento tóxico para os animais e as suas concentrações estão a aumentar nos oceanos de todo o mundo, sendo já reconhecido como um problema global. Apesar de o Oceano Austral apresentar altos níveis de mercúrio, poucos estudos analisaram este problema e como está a afetar os animais marinhos. No entanto, os poucos estudos efetuados mostram, por exemplo, que a ave marinha Antárctica albatroz viajeiro (Diomedea exulans) apresenta as concentrações de mercúrio mais elevadas de todas as aves marinhas do mundo. Não menos surpreendente é a ausencia de estudos no Krill Antárctico Euphausia superba, visto esta ser uma espécie chave [1] no ecossistema do Oceano Austral.
Usando machos, fêmeas, juvenis e ovos de individuos de Krill Antárctico capturados nas South Orkney (ilhas Antárcticas com gelo marinho no inverno), South Georgia (ilhas Subantárcticas sem gelo marinho no inverno) e na Frente Polar Antárctica (zona oceânica que separa o Oceano Austral do Oceano Atlântico,no caso do Sector Atlântico) para perceber a possível biomagnificação [2] de mercúrio nas redes tróficas da Antártida.

Foram encontradas diferenças entre as concentrações de mercúrio de indivíduos capturados nos diferentes locais, com os indivíduos capturados nas South Orkney a apresentarem maiores valores que os das outras duas regiões. Os autores sugerem que o habitat e a presença de gelo marinho no inverno podem explicar estas diferenças pois o gelo tem a capacidade para capturar contaminantes da atmosfera. Também foram encontradas diferenças entre as fases da vida, com os juvenis a apresentarem níveis de mercúrio mais altos que os adultos. Estas diferenças podem-se relacionar com a eliminação de mercúrio através das gónadas (reflectido nos ovos), com os indivíduos a excretar este mercúrio ao longo da vida por diferentes processos como a muda da carapaça.

Os resultados mostram que o Krill Antárctico apresenta níveis semelhantes (ou maiores) que outras espécies de krill que habitam perto de zonas industrializadas, confirmando que o mercúrio é um problema global, exigindo um programa de controlo mundial para revelar as fontes, as vias e os efeitos destes contaminantes, especialmente na Antártida.
[1] espécie chave é uma espécie fundamental no ecossistema que se desaparecer todo o sistema pode entrar em colapso.
[2] biomagnificação refere-se ao aumento das concentrações ao longo da vida dos indivíduos.
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Fontes: Seco J, Xavier JC, Coelho JP, Pereira B, Tarling G, Pardal MA, Bustamante P, Stowasser G, Brierley AS, Pereira ME (2019) Spatial variability in total and organic mercury levels in Antarctic krill Euphausia superba across the Scotia Sea. Environ Pollut. doi: 10.1016/j.envpol.2019.01.031
Autor: José Queirós