A capacidade evolutiva e adaptativa dos peixes antárticos

A Antártida é um continente localizado no Pólo Sul e está rodeada por uma corrente circumpolar há cerca de 40 milhões de anos. Esta barreira protege e evita a entrada de águas mais quentes e de espécies não nativas. Os peixes que aqui habitam estão bem adaptados a este ambiente estável, onde as temperaturas da água do mar variam entre -2 a 2℃.

A fauna marinha engloba 222 espécies de peixes, dos quais 101 espécies pertencem à subordem Notothenioidei, que é a mais abundante no Mar Ross. Esta subordem é constituída por 8 famílias:

Estas espécies desenvolveram diversas características únicas e específicas relacionadas com a parte estrutural, comportamental e fisiológica. Algumas destas características evolutivas resultaram através de eventos regressivos e, passo a citar alguns exemplos:

– proteínas anticongelantes que impedem que o organismo congele a temperaturas abaixo de zero;

– baixa densidade óssea, ou seja, menos cálcio presente e, consequentemente menos gasto de energia necessária para se locomover;

– baixo índice metabólico o que significa que o metabolismo é lento, de modo a evitar gastos de energia desnecessários;

– perda de hemoglobina no sangue, o que torna o sangue praticamente translúcido e os eritrócitos/hemácias como estão totalmente ou praticamente ausentes, impossibilita o transporte de oxigénio através deles;

– rins aglomerulares, ou seja, ausência de glomérulos de Malpighi que são necessários para a filtração do sangue na maioria das espécies;

– maior densidade mitocondrial.

Todas estas especificidades foram desenvolvidas ao longo de milhares de anos e, resultaram na sobrevivência e adaptação destes seres vivos às condições inóspitas presentes no continente antártico. As alterações climáticas, que já se fazem sentir em alguns pontos do planeta, podem afetar também este ambiente marinho, através da disrupção da barreira circumpolar e, consequentemente permitir a entrada de outros organismos que podem ser patogénicos e competitivos com as espécies nativas. Atualmente, uma das linhas de investigação, na qual estou inserida, do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) está focada no estudo da evolução do sistema imunitário destes peixes antárticos e na potencial resposta, bem como mecanismos de defesa, perante o aumento de temperatura e aparecimento de novos organismos potencialmente patogénicos (ex. bactérias, vírus, fungos) que podem comprometer a sua sobrevivência.

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Fonte: Matschiner, M., Colombo, M., Damerau, M., Ceballos, S., Hanel, R., Salzburger, W. (2015). The adaptive radiation of Notothenioid Fishes in the Waters. Extremophile Fishes, 35-57. doi: 10.1007/978-3-319-13362-1_3

Autora: Cármen Sousa

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