Os aumentos da variabilidade climática têm afetado os ecossistemas do mar de Bering. A persistência de ondas de calor marinhas, i.e. períodos prolongados de aumento de temperatura da superfície do mar, e recuo precoce do gelo marinho afetam a composição e início da proliferação da produção primária. Declínios da biomassa de fitoplâncton e densidade lipídica do zooplâncton e pequenos peixes em anos mais quentes têm ocorrido no mar de Bering. Estas mudanças levam, potencialmente, a efeitos cascata na cadeia trófica. Aves marinhas como o papagaio-do-mar podem sofrer consequências visíveis como eventos de mortalidade em massa. Embora curtos, estes eventos representam períodos catastróficos de mortalidade elevada e podem ultimamente levar à diminuição da população.
Um estudo recente descreveu um evento de mortalidade em massa do papagaio-do-mar-de-penachos (Fratercula cirrhata) sem precedente na ilha St. Paul, ilhas Pribilof, Alaska, no mar de Bering. Mais que 350 carcaças foram encontradas a um nível 60 a 80 vezes mais elevado que o normal. Destas carcaças, 79 % eram papagaios-do-mar enquanto que outras aves marinhas como torda-de-penacho (Aethia cristatella), papagaio-do-mar-de-chifres (Fratercula corniculata) e airo e airo-de-freio (Uria spp.) foram também encontradas. Estimativas de mortalidade foram calculadas com base na observação da abundância de carcaças, esforço de amostragem, deteção de carcaças, persistência e proporção da taxa de encalhes. Estes modelos estimaram a mortalidade do papagaio-do-mar-de-penachos em 3150 a 8800 aves, representando uma porção significativa das colónias presentes no mar de Bering.
A causa de morte principal terá sido inanição, enquanto que as condições climáticas podem ter dificultado a procura de alimento. Além disso, a maioria das carcaças eram adultos em muda. A muda de penas é feita em sincronia e durante este período, que pode demorar até 40 dias, o papagaio-do-mar não pode voar. Este período de tempo é stressante para estas aves, uma vez que as necessidades nutricionais aumentam durante um período em que a ave não se pode alimentar. Se os papagaios-do-mar-de-penachos se encontravam em pobres condições nutricionais antes da muda devido a, por exemplo necessidades energéticas para a reprodução, que acontece antes da muda, e escassez de presa nas proximidades, a vulnerabilidade das aves em muda terá aumentado. De facto, alterações recentes no ecossistema no mar de Bering incluem reduções na abundância e densidade energética de peixes como capelim e paloco, e redução da abundância de copépodes e eufausideos ricos em lípidos – o principal alimento do papagaio-do-mar-de-penachos.
Estimar mortalidade em massa de aves marinhas é difícil, especialmente porque o comportamento das aves moribundas não é conhecido. Então assume-se que estas se aproximam da costa, uma vez que as estimativas se baseiam em carcaças que encalham na praia. Devido a esta incerteza, a magnitude dos eventos de mortalidade pode ser subestimada se as aves se movem para mar aberto e acabam por nunca ser encontradas. Este evento de mortalidade em massa é apenas um de muitos que têm ocorrido no nordeste do Pacífico entre 2014 e 2018, um sinal da dimensão alarmante das mudanças no ecossistema.
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Fonte: Jones, Timothy et al. 2019. “Unusual Mortality of Tufted Puffins (Fratercula Cirrhata) in the Eastern Bering Sea.” Plos One 14(5): e0216532. doi: 10.1371/journal.pone.0216532
Autora: Sara Pedro