Microplásticos no Árctico?

Atualizado: 15 de nov. de 2019

Os ecossistemas bênticos constituem um depósito oceânico para uma grande variedade de poluentes, como por exemplo metais pesados e plásticos. A maioria dos plásticos encontrados nos ecossistemas marinhos são de pequenas dimensões, com diâmetros inferiores a 5mm, sendo denominados de microplásticos. Como resultado, muitos organismos acabam por os ingerir, confundindo-os com possíveis presas. Por sua vez, através das interações predador-presa, parte destes detritos são transferidos ao longo da cadeia trófica, podendo provocar a morte quando a sua acumulação é excessiva.

Nesta edição do Ciências às Claras, apresentamos um estudo no qual a presença de microplásticos foi verificada nas regiões do Ártico e sub-Ártico. Para tal, uma equipa de investigadores chineses navegou pelas regiões do mar de Chukchi e do mar de Bering (Fig. 1), amostrando os ecossistemas bênticos através de redes de malha de 2cm de diâmetro. Foram recolhidos um total de 11 espécies diferentes, incluindo organismos como estrelas-do-mar, serpentes-do-mar, camarões, caracóis marinhos e bivalves (Fig. 2). Em laboratório, todos os animais foram dissecados e a quantidade de microplásticos analisada através de equipamento especializado para medições à escala microscópica.

A equipa descobriu que as estrelas-do-mar – que ocupam níveis tróficos superiores predando bivalves, cracas ou gastrópodes – apresentaram a maior quantidade de microplásticos. Este resultado suporta a possibilidade de que grande parte dos microplásticos presentes nas presas serão transferidos para o predador por ingestão. Os detritos observados compreendiam tamanhos entre 0.2mm – 2mm, o que torna mais fácil a ingestão destes por parte da comunidade bentónica do Ártico.

Para além disso, a maior quantidade de microplásticos foi encontrada em latitudes mais a norte (Fig. 1) e, após a análise da composição destes, determinou-se que a sua possível origem seria de produtos têxteis, embalagens de plástico ou material de pesca (p.e. redes de nylon). A presença destes em grandes quantidades poderá estar associada a atividades antropogénicas naquela região (p.e. pesca, transportes marítimos) ou mesmo ao transporte de detritos feito pelo gelo e fortes correntes oceânicas.

Figura 1. Locais de amostragem e quantidades de microplásticos encontrados pela equipa de investigadores.
Figura 2. Organismos encontrados pelos cientistas. Leia-se da esquerda para a direita, de cima para baixo: estrelas-do-mar (Asterias rubens, Ctenodiscus crispatus and Leptasterias polaris), camarões (Pandalus borealis), caranguejos (Chionoecetes opilio), serpentes-do-mar (Ophiurasarsii), caracóis-do-mar (Retifusus daphnelloides, Latisipho hypolispusand Euspira nana) e bivalves (Astarte crenatae Macoma tokyoensis).

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Fonte: Fang, C., Zheng, R., Zhang, Y., Hong, F., Mu, J., Chen, M., Song, P., Lin, L., Lin, H., Le, F., Bo, J., Microplastic contamination in benthic organisms from the Arctic and sub-Arctic regions, Chemosphere (2018), doi: 10.1016/j.chemosphere.2018.06.101.

Autor: Ricardo Matias

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