Rios atmosféricos desencadeiam derretimento do gelo na Antártida Ocidental

Importantes eventos recentes de derretimento do gelo na Antártida Ocidental levantaram preocupações acerca do potencial derretimento superficial das plataformas de gelo e o seu consequente colapso.

Este mês, o Ciência às Claras traz-nos um estudo que pretende relacionar o derretimento do gelo na Antártida Ocidental com os rios atmosféricos. Estes eventos consistem em bandas estreitas e longas associadas a um elevado transporte de vapor de água que viajam desde as regiões tropicais para latitudes mais elevadas. Quando a corrente de jato se torna mais ondulada, os ciclones extratropicais em torno da Antártida transportam os rios atmosféricos em direção ao continente. Estes eventos transportam calor e humidade e assim, ao atingirem terra, afetam a superfície terrestre da Antártida.

Este estudo consistiu na utilização de um algoritmo de deteção de rios atmosféricos desenvolvido para a Antártida em conjunto com observações do derretimento do gelo. Como resultado, foi produzida uma climatologia de eventos de degelo relacionados com rios atmosféricos de 1979 até 2017. Para analisar a distribuição dos eventos e os impactos associados, a Antártida foi dividida em quatro quadrantes. O foco deste estudo foram os dois quadrantes que cobrem a região da Antártida Ocidental – Manto de Gelo da Antártida Ocidental (WAIS) e Península Antártida e o Mar de Weddell (AP-Weddell).

Os resultados obtidos mostram que os rios atmosféricos estão associados a uma elevada percentagem de eventos de derretimento do gelo. Apesar dos rios atmosféricos serem eventos raros na Antártida Ocidental (cerca de 12 eventos por ano), estes estão associados a cerca de 40% do degelo na Plataforma de Gelo Ross até aproximadamente 100% nas regiões mais elevadas da Terra de Marie Byrd durante o verão, e 40 a 80% do derretimento das plataformas de gelo Wilkins, Bach, George VI e Larsen B e C durante o inverno.

Os maiores eventos de degelo no Manto de Gelo da Antártida Ocidental ocorrem apenas algumas vezes por década, no entanto o aquecimento e o aumento contínuo da atividade dos rios atmosféricos podem aumentar a frequência de eventos de derretimento com consequências na estabilidade das plataformas de gelo.

———–

Fonte: Wille, J. D., Favier, V., Dufour, A., Gorodetskaya, I. V, Turner, J., Agosta, C. and Codron, F. 2019, West Antarctic surface melt trigered by atmospheric rivers, Nature Geosciences, 12, 911–916, DOI: 10.1038/s41561-019-0460-1

Autora: Carolina Viceto

Partilhar

Deixe um comentário