Análise de glaciares na Península Antártica relativamente à variabilidade no degelo de icebergs

Muitos glaciares e plataformas de gelo ao longo da Península Antártica têm ficado cada vez mais finas e recuado ao longo do tempo, levando ao seu colapso e aumentando a descarga de gelo no oceano. Alguns autores sugerem que o aquecimento do oceano poderia levar a esse colapso e mudanças nos glaciares. No entanto, o tempo e a magnitude destas mudanças variam, provavelmente devido a variações locais, como mudanças no Índice de Oscilação do Sul e no processo El Niño. Já se sabe a importância das variações das condições dos oceanos na perda de gelo dos icebergs, mas é ainda necessário entender a importância do controlo das condições oceanográficas na dinâmica dos glaciares. Investigadores americanos exploraram recentemente a utilização de taxas de degelo de icebergs detetadas remotamente na Península Antártica para inferir a variabilidade dos efeitos da força oceânica na posição do terminal dos glaciares.

Este estudo decorreu em oito locais selecionados com os glaciares ao longo da Península Antártica (seis ao longo do lado oeste e dois no lado leste) de 2013 a 2019. As taxas de fusão foram calculadas durante 14 períodos de observação separados, observando não mais que 20 icebergs. Também foi observada a ablação frontal isto é, a perda de massa do glaciar devido ao degelo, calculando a diferença entre a velocidade e a taxa de alteração da posição terminal.

As taxas de fusão mais elevadas foram encontradas no lado oeste da península (glaciar Cadman entre 2018 e 2019) e as taxas de fusão mais baixas no lado oriental da península (glaciar Crane entre 2016 e 2017). Para o glaciar Edgeworth, essa taxa foi significativamente maior entre 2013 e 2014 em relação a outros períodos de observação. As temperaturas da água nesta zona são relativamente baixas, pois chegam do mar de Weddell, explicando assim as baixas taxas de degelo nos locais onde se encontram os glaciares Edgeworth e Crane. A única exceção foram as taxas mais elevadas dos icebergs próximos ao glaciar Edgeworth, onde se supõe que existem plumas glaciares. Entre 2014-2016 e em 2019, o glaciar Seller apresentou uma alta taxa média de degelo, podendo ser explicado pelo fato de que estes icebergs são criados em profundidade existindo contato com as águas mais quentes.

Os glaciares Crane e Cadman apresentaram um avanço de mais de 3 km de 2013 a 2019, enquanto o glaciar Edgeworth avançou até 2017 e depois recuou. Os restantes glaciares mantiveram posições e velocidades relativamente estáveis durante os últimos anos. No entanto, as séries temporais de velocidade sugerem que os glaciares Cadman e Widdowson aceleraram até 2018. Relativamente às taxas de ablação frontal, os glaciares Seller e Widdowson apresentaram as taxas mais elevadas, o que tende a ser observado em glaciares que apresentam um fluxo mais rápido. As taxas de ablação frontal nos glaciares Seller e Crane são um reflexo do ajustamento dinâmico a longo prazo ao colapso das plataformas de gelo.

Estes resultados sugerem uma ligação positiva entre as taxas de degelo dos icebergs e as condições locais do oceano, indicando que estas condições influenciam a ablação frontal dos glaciares e o degelo é fortemente controlado pela velocidade da massa da água.

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Fonte: Dryak MC & Enderlin EM (2020). Analysis of Antarctic Peninsula glacier frontal ablation rates with respect to iceberg melt-inferred variability in ocean conditions. Journal of Glaciology, 1-14. doi: 10.1017/jog.2020.21

Autora: Inês Ribeiro

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