As notícias que circulam nos últimos tempos mostram sinais que o ambiente pode estar a recuperar da poluição atmosférica associado com o estado de emergência de saúde pública global. Imagens satélite da Índia, China, Itália e outros países mostram quedas dramáticas da concentração de poluentes atmosféricos. Mas estes dados devem ser analisados com cautela, pois referem-se principalmente a óxidos de azoto (NOx – gases produzidos nos processos de combustão de combustíveis como a gasolina).
Estes poluentes, cujas concentrações atmosféricas têm vindo a diminuir desde o início da quarentena, são poluentes de vida curta, isto é, permanecem na atmosfera por pouco tempo e influenciam o clima local de uma cidade ou zona urbana particular onde são produzidos. Uma vez na atmosfera, os NOx contribuem para a formação de chuva ácida e inclusive para a formação de ozono. No entanto, não se deve confundir com a camada de Ozono na estratosfera, que nos protege dos raios ultravioleta. Em zonas mais baixas da atmosfera, o ozono é um gás altamente oxidante, que pode reagir com outras partículas formando uma névoa tóxica conhecida como smog.
Estas partículas que ficam em suspensão na atmosfera, por exemplo poeiras, fuligem, e compostos voláteis, são pequenas, menores que PM10 ou até PM2.5 (i.e. partículas menores que 10 ou 2.5 micrómetros por metro quadrado) e consequentemente podem ser facilmente inaladas pelo aparelho respiratório. Segundo o State of Flobal Air 2018, mais de quatro milhões de mortes a nível mundial por ano são atribuídas a problemas respiratórios associados a este tipo de partículas finas.
E o dióxido de carbono – CO2?
Ao contrário dos poluentes de vida curta, o CO2, o metano CH4 e o protóxido de azoto N2O podem ficar por muito tempo na atmosfera, décadas ou mais. Aproximadamente 2.4 trilhões de toneladas de CO2 entre 1850 a 2019 têm sido libertados para a atmosfera depois da revolução industrial. Destas, 40% acumularam-se na atmosfera e as restante 60% foram sequestradas por nos oceanos ou biosfera. Segundo o Carbon Brief, só o ano de 2019 correspondeu a 43 gigatoneladas (Gton) de CO2.
O que podemos esperar de 2020, considerando o COVID 19?
Nada de muito diferente no que toca ao CO2, em vez das 43 Gton expectáveis, este ano podemos contar com umas 40 Gton, mais coisa menos coisa, correspondendo a uma diminuição de 5 a 7% em comparação com 2019.
Como seria de esperar a quarentena não foi suficiente para impedir o derretimento do gelo polar, de acordo com um estudo publicado na revista Geophysical Research Letters, onde os cientistas examinaram o comportamento do gelo do Ártico com base em 40 modelos climáticos. Estes concluíram que, até meados do século, podemos perder quase a totalidade da superfície de gelo do Ártico em Setembro porque, tal como vimos, os gases de longa duração continuam na atmosfera.
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Autor: Ricardo Ramos