A caça à baleia levou muitas espécies de baleias perto da extinção. Embora a maioria das populações do Hemisfério Sul estejam a recuperar lentamente, a influência das alterações climáticas permanece desconhecida. Um grupo de investigadores da Austrália estudaram o impacto de duas pressões antropogénicas – caça comercial da baleia e futuras alterações climáticas – em populações das baleias azul (Balaenoptera musculus), baleia comum (Balaenoptera physalus), baleia de bossa (Megaptera novaeangliae), baleia anã Antártica (Balaenoptera bonaerensi), e Franca Austral (Eubalaena australis), e as suas principais presas especificamente o krill (Euphausia superba) e copépodes (pequeno zooplâncton mais abundante) no oceano Antártico. Os investigadores usaram um modelo climático-biológico intitulado “Modelo de Complexidade Intermediária para a Avaliação de Ecossistemas” (MICE) que interliga a dinâmica populacional de krill e de baleias com fatores de alterações climáticas, incluindo alterações na temperatura do oceano, produtividade primária e gelo marinho.
Os autores incluíram interações bidirecionais presa-predador no modelo que permitem três versões alternativas:
– o Modelo 1 associou a dinâmica do krill às futuras alterações na temperatura da superfície do oceano e concentrações de clorofila, ligando indiretamente os fatores de climáticos à dinâmica populacional de baleias através da alteração da abundância de presas e sucesso na reprodução das baleias;
– o Modelo 2 incluiu todas as interações do modelo anterior e acrescentou interligações entre futuras alterações na extensão do gelo marinho e mudanças na distribuição das baleias;
– o Modelo 3 simulou um cenário comparativo, onde os fatores climáticos foram dissociados da dinâmica das espécies, e mudanças na abundância das baleias e do krill foram impulsionadas apenas pela predação e competição entre baleias.
Os modelos prevêem futuros impactos negativos das mudanças climáticas nas espécies de krill e em todas as baleias, embora a magnitude dos impactos nas baleias seja diferente entre as populações. Os resultados sugerem que as baleias que se alimentam em áreas de latitude média podem ser mais afetadas pelo efeito das alterações climáticas na abundância das presas do que as baleias que se alimentam mais a sul. Quanto ao krill e copépodes, o impacto é difícil de quantificar nos processos ecológicos mas, é importante mencionar que o aumento da temperatura pode afetar a sua abundância e distribuição. As baleias de bossa e a baleia Franca Austral, que predominantemente se alimentam em latitudes médias, foram as mais afetadas devido aos declínios previstos na abundância de krill e copépodes, o que destaca que as áreas adjacentes à corrente circumpolar antártica são altamente vulneráveis às alterações climáticas.
Apesar da recuperação inicial da caça à baleia, os modelos prevêem declínios devido às alterações climáticas, inclusive extinções locais até 2100, para as populações de baleia azul, baleia comum e baleia Franca Austral no Pacífico, e para as populações de baleia comum e baleia de bossa no Atlântico/Índico. Os declínios previstos são uma consequência da redução das presas (copépodes/krill) devido ao aumento da temperatura do oceano e à competição interespecífica entre as espécies de baleias. Os investigadores prevêem a necessidade de evitar limites extremos de temperatura de modo a manter um ecossistema seguro para o crescimento do krill e evitar a sua redução, bem como a recuperação da população das baleias de barbas especialmente as baleias azuis e anãs da Antártida através da adaptação dos seus padrões migratórios às alterações do gelo marinho e da abundância de presas na Antártida.
Este estudo salienta a necessidade de proteção contínua, para ajudar na recuperação das populações de baleias em declínio, bem como na gestão local, de modo a garantir que as populações de krill permaneçam sustentáveis. No entanto isto pode ter um sucesso limitado sem a ação imediata para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. As alterações climáticas podem afetar diretamente a pesca comercial de krill no oceano Antártico, tendo em conta a atual previsão de expansão da pesca e o aquecimento projetado para um nível que excede a tolerância térmica do krill.
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Fonte: Tullock, V., Plagányi, É., Brown, C., Richardson, A., Matear, R. (2019). Future recovery of baleen whales is imperiled by climate change. Glob Change Biol, 25: 1263-1281. doi: 10.1111/gcb.14573
Autora: Cármen Sousa