Quando se fala em poluição nos Polos, locais geograficamente isolados, normalmente fala-se de contaminantes que chegam por transporte atmosférico ou aquático, ou fontes naturais, como por exemplo os vulcões. No entanto, há outras maneiras dos contaminantes chegarem ao continente Antártico.
A verdade é que as aves marinhas também têm o seu papel em trazer vários tipos de contaminantes para estes locais isolados. Porquê? As aves marinhas juntam-se em grandes números, chamadas de colónias, resultando numa grande quantidade de fezes depositadas no mesmo local no solo. Um estudo recente concluiu que vários contaminantes, e não apenas nutrientes, acumulam-se nos organismos das aves marinhas e são libertados para o ambiente através das suas fezes.
Deste modo, para verificar que contaminantes são excretados pelas aves, cientistas do Brasil e França deslocaram-se à Antártica e retiraram amostras de solo de colónias, assim como amostras de solo afastadas destas colónias. Comparando os resultados dos dois tipos de solo, o estudo revelou que efectivamente nas zonas de colónias, o solo apresenta uma quantidade mais elevada de vários contaminantes, como o cádmio (Cd), mercúrio (Hg) e arsénio(As), entre outros.
No entanto há tantas outras fontes destes elementos e por isso é necessário verificar se as aves marinhas são de facto uma causa de poluição nestes locais. Assim, o estudo usou a análise de isótopos estáveis de carbono (C) e Azoto (N), que devido à alta precisão permite distinguir as diferentes fontes destes elementos. Por exemplo, locais onde há maior excrementos destas aves apresentam maior quantidade de fracionamento do isótopo de N15 com valores associados a azoto proveniente de animais. Podendo concluir que de facto a maior parte dos elementos contaminantes é oriundo das fezes destas aves marinhas.
Apesar de os resultados indicarem que as aves marinhas são uma fonte de poluição na Antártica (o que também já foi comprovado no Ártico), ainda há muito para estudar! O tipo de aves, tamanho da colónia, saúde das aves entre outros fatores podem influenciar estes resultados.
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Fonte: C.V.Z. Cipro, P. Bustamante, M.V. Petry, R.C. Montone, Seabird colonies as relevant sources of pollutants in Antarctic ecosystems: Part 1 – Trace elements, Chemosphere, Volume 204, 2018, Pages 535-547. DOI: 10.1016/j.chemosphere.2018.02.048
Autora: Beatriz Bento