A distribuição dos rorquais e do bacalhau em relação às suas presas no Ártico norueguês

No momento atual, as alterações climáticas são um facto inegável, sendo o aquecimento das águas oceânicas e o degelo das consequências mais notáveis. Neste contexto, o aumento da temperatura no Mar de Barents tem provocado condições favoráveis para muitas espécies de zooplâncton (ex.: krill), assim como para os seus predadores, como o bacalhau do Atlântico, ou várias espécies de baleias-de-barbas, nomeadamente rorquais (baleias com pregas longitudinais), se expandirem ainda mais para Norte. Consequentemente, estas “novas” espécies alteram toda a cadeia alimentar instalada no Ártico norueguês.

Identificação da localização das pregas longitudinais numa Baleia azul, característica que a faz pertencer ao grupo dos rorquais (direitos autor Rui Santos)

Face a estas novas expansões, um grupo de investigadores pretendeu analisar a presença de baleia azul, baleia comum, baleia anã e de bacalhau e a relação com as suas presas, de modo a compreender a sua abundância e distribuição no Ártico norueguês (mais ou menos a norte de Svalbard), bem como entre diferentes profundidades. Isto é, será que a expansão destas espécies mais a norte se deve à abundância de presa nestas regiões? Para isso, realizaram campanhas oceanográficas durante os meses de agosto e setembro, em 4 anos consecutivos de 2014 a 2017, que incluíram observação de baleias, dados acústicos e recolhas biológicas das suas presas (populações de zooplâncton e peixe) a diferentes profundidades. As amostragens foram divididas entre mais que ou menos que 200 metros de profundidade, pois os rorquais alimentam-se principalmente a profundidades até aos 200 metros.

Para grandes espécies de rorquais, como a baleia azul e comum, não existe uma relação entre a sua distribuição e a das suas presas. Os grandes rorquais deste estudo (baleia azul e comum) aparentam ter dificuldades em detetar as suas presas. Pelo contrário, a baleia anã consegue detetar as suas presas a mais de 10 km, tendo sido encontrada uma relação entre as suas presas preferenciais e profundidades inferiores a 200 metros, e entre estas baleias e o bacalhau para profundidades superiores a 200 metros. A presença de bacalhau a profundidades de mais de 200 metros, faz com que presas como o zooplâncton ou peixes de pequena dimensão sejam forçados a subir na coluna de água. Como consequência tornam-se mais facilmente disponíveis para a baleia anã. Desta maneira, esta espécie acaba por beneficiar positivamente da presença de bacalhau.

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Fonte: Solvang, H. K. et al. Distribution of rorquals and Atlantic cod in relation to their prey in the Norwegian high Arctic. Polar Biology, 1-22 (2021). DOI: 10.1007/s00300-021-02835-2

Autor: Rui Santos

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