Poluição no Oceano Ártico: Uma visão geral de múltiplas causas e efeitos

As espécies e ecossistemas do Ártico estão sujeitos a uma ampla gama de pressões das atividades humanas, desde a exposição a misturas complexas de poluentes, alterações climáticas e pesca industrial. As pressões provocadas pelo aumento da atividade antropogénica são ainda exacerbadas pelas alterações climáticas, que afetam o Ártico mais severamente quando comparado a outras regiões temperadas. As políticas internacionais têm vindo a procurar suportar a exploração sustentável dos recursos do Ártico com o objetivo de equilibrar tanto o bem-estar humano como a conservação ambiental. Gerir múltiplas pressões no Ártico é particularmente desafiador devido aos interesses internacionais e geopolíticos, legislação e própria regulamentação. Adicionalmente, o degelo vêm abrir a possibilidade de novas rotas de navegação no Ártico, com os riscos associados de derramamentos de crude e libertação de microplásticos. Existem assim muitos agentes, recetores, rotas de exposição e escalas diferentes, a atuar simultaneamente, que precisam de ser consideradas.

Neste contexto, o Conselho do Ártico foi estabelecido em 1996 para gerir e regulamentar as questões relativas ao Ártico. O Conselho do Ártico é um fórum intergovernamental estabelecido para promover a cooperação, coordenação e interação entre os países com soberania na região (ex.: Canadá, Finlândia, Suécia, etc.), povos indígenas e outros habitantes. Os vários grupos de trabalho científicos recolhem dados de monitorização que são essenciais para perceber o estado de evolução dos ecossistemas do Ártico (Programa de Monitoramento e Avaliação do Ártico – AMAP, 2018). Existem também grupos de trabalho focados na redução da poluição do Ártico (Programa de Ação de Contaminantes do Ártico – ACAP, 2020). Individualmente, os grupos de trabalho fornecem informações sobre pressões e efeitos sobre uma variedade de poluentes, ciclos biogeoquímicos, e populações de flora e fauna, que ajudam posteriormente nas decisões políticas a tomar.

Pedaço de Plástico encontrado no ártico mostra o quão longe a poluição se espalha (fonte: @ConorMcDPhoto)

Ferramentas e técnicas in silico têm sido usadas para realizar avaliações de risco químico para o Oceano Ártico. A Figura 1 apresenta as ferramentas e metodologias in silico usadas para realizar uma avaliação de risco químico para cada uma das etapas do processo. A falta de um único modelo rigoroso para informar a tomada de decisões regulamentadas e ajudar na gestão dos impactos dos poluentes, faz com que uma combinação de modelos tenha de ser usada para abordar diferentes aspetos das diferentes questões. Os modelos Ecotracer têm o potêncial de serem as ferramentas ideais para analisar a interação de nutrientes e poluição química dentro desta perspetiva. Isto é particularmente relevante no contexto do oceano Ártico devido à sazonalidade da produtividade primária provocada por mudanças na luz solar e na cobertura de gelo marinho durante o ano. Atualmente existe apenas um modelo que permite a análise combinada de pressões químicas, físicas e ecológicas e as suas implicações para os ecossistemas marinhos.

Ferramentas e metodologias em Silico para realizar uma avaliação de risco químico. Adaptado de van Leeuwen (2007) e Reppas Chrysovitsinos (2017)

Um dos problemas de base reside no impacto da poluição marinha nas imensas florestas de algas ao longo das costas do Ártico que subsequentemente afeta os restantes serviços que este ecossistema suporta. A contaminação das áreas costeiras, pode assim, levar a impactos socioeconômicos negativos substanciais nas indústrias de turismo e recreação.

Ao momento, não há modelos totalmente eficazes que permitam avaliar múltiplas pressões da poluição a atuar simultaneamente, e que abranjam nutrientes e contaminantes orgânicos/inorgânicos. No entanto, o Ecotracer pode assim servir como uma ferramenta de caracterização de risco num nível de seleção para reunir dados sobre perigo, exposição e efeitos. Atualmente, decorrem esforços científicos para avaliar os efeitos dos contaminantes nos peixes e na vida selvagem do Ártico, tendo trabalhos anteriores enfatizado a necessidade de avaliação do efeito a longo termo dos produtos químicos na biota do Ártico.

Townhill, B.L., Reppas-Chrysovitsinos, E., Sühring, R. et al. Pollution in the Arctic Ocean: An overview of multiple pressures and implications for ecosystem services. Ambio 51, 471–483 (2022). https://doi.org/10.1007/s13280-021-01657-0

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Autora: Cátia Gonçalves

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