Poluentes orgânicos persistentes: Implicações nos ecossistemas Antárticos

Nos últimos anos tem-se vindo a verificar um aumento do número de cientistas e de turistas na região da Antártida, o que leva a um aumento bastante significativo da pegada antropogénica nos ecossistemas antárticos. Vários são os estudos que têm surgido nos últimos anos e dão conta de macro e microplásticos, de poluentes orgânicos persistentes (POPs) e produtos farmacêuticos e de cuidados pessoais (PPCPs), que têm emergido nos ecossistemas polares. No entanto, e no que diz respeito a estes últimos, pouco se sabe sobre a sua presença em organismos das cadeias alimentares, especialmente na comunidade fitoplanctônica, que é a base da cadeia alimentar.

Turismo na Antártida. Fotografia de Peter Prokosch

Num estudo recente, jovens cientistas portugueses recorreram a técnicas de espetrofotometria de massa para analisarem pela primeira vez a presença de contaminantes emergentes (como os POPs e os PPCPs) na comunidade fitoplanctônica de uma ilha remota na Antártida, a qual é visitada por fins turísticos e científicos, proporcionando assim informações importante sobre a pegada humana deixada nestes ecossistemas remotos.

Foram detetados mais de 70 poluentes persistentes de origem humana (incluindo POPs e PPCPs, entre outros). No geral, a variedade e uso dos compostos detetados podem estar ligados tanto a atividades terrestres como atividades marinhas, evidenciando assim a contribuição antropogénica no ecossistema da Antártida. A deteção destes compostos na base da cadeia alimentar da Antártida, os quais podem ser potencialmente tóxicos consoante a sua concentração, poderá trazer implicações bastante graves para toda a estrutura trófica do ecossistema, uma vez que irá colocar em risco os diversos organismos.

Posto isto, este estudo vem enfatizar a lacuna de conhecimento que se verifica relativamente aos efeitos potencialmente tóxicos que estes poluentes podem ter nos diversos organismos da cadeia alimentar da Antártida. Vem ainda realçar a necessidade de revisão das diretrizes impostas pelo Tratado da Antártida e pelo Protocolo de Proteção Ambiental ao Tratado da Antártida, de forma a que haja um controlo e evitamento da proliferação destes e outros PPCPs em ambientes remotos tão únicos como é o caso da Antártida.

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Fonte:Duarte, B., Gameiro, C., Matos, A. R., Figueiredo, A., Silva, M. S., Cordeiro, C., Caçador, I., Reis-Santos, P., Fonseca, V., & Cabrita, M. T. (2021). First screening of biocides, persistent organic pollutants, pharmaceutical and personal care products in Antarctic phytoplankton from Deception Island by FT-ICR-MS. Chemosphere, 274, 129860. https://doi.org/10.1016/j.chemosphere.2021.129860

Autora: Joana Fragão

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