Como melhorar a contagem de pinguins imperador do espaço

Nos últimos anos, o desenvolvimento de tecnologias de senso remoto para o estudo da vida selvagem veio mudar a forma como podemos estudar certos ecossistemas, ecossistemas estes de difícil acesso aos cientistas por serem locais inóspitos. O uso de imagens de satélite de alta resolução é uma nova ferramenta que veio permitir estudar as populações do icónico pinguim imperador (Aptenodytes forsteri).

Estas imagens, de 30 a 60 cm de resolução, permitem distinguir estas aves marinhas durante a sua época de reprodução quando estas se encontram sob as plataformas de gelo ao longo da costa da Antártida. A sua deteção acontece quando os pinguins, normalmente em conjuntos de centenas ou milhares de indivíduos, deixam uma marca muito característica e de grande tamanho de guano (i.e., excrementos de aves marinhas), passível de se conseguir reconhecer nas imagens de satélite pelo contraste de cores do castanho do guano com o branco do gelo. Isto permitiu pela primeira vez fazer uma contagem do número colónias de pinguins imperador existentes ao redor da Antártida. Atualmente, sabe-se que existem 66 colónias.

Adulto e cria de pinguim imperador. Foto por Peter Fretwell.

Mas, como a perfeição é difícil de alcançar, todas as tecnologias acabam por ter as suas imperfeições e limitações. À data, para representação do número total de indivíduos de uma determinada colónia, apenas se usa uma imagem de satélite por ano. Mas será que este método é o mais correto? Será que essa imagem nos transmite a verdadeira dinâmica de uma colónia num ano? Foram essas questões que levaram investigadores norte-americanos e colegas internacionais a procurarem elucidar um pouco mais sobre as limitações que esta tecnologia pode ter para a contagem de pinguins imperador.

Neste estudo, os autores avaliaram dois tipos de variáveis que podem influenciar o número de pinguins contáveis numa determinada imagem de satélite de alta resolução. Estas são variáveis relacionadas com o próprio satélite (p.e., azimute solar), que podem projetar sombras na imagem impedindo a contagem correta das aves, ou variáveis ambientais (p.e., vento e temperatura), que podem influenciar a dispersão dos pinguins (pinguins mais dispersos são mais fáceis de contar).

Três das colónias mais representativas em termos de números foram usadas como locais de estudo: Atka Bay e Stancomb-Wills (colónias no sector do mar de Weddell) e Coulman Island (colónia no sector do mar de Ross).

Índices populacionais (por mil m2) de outubro a dezembro de 2011 das colónias de pinguim imperador de Atka Bay, Stancomb-Wills e Coulman Island.

Os autores concluíram que usar apenas uma imagem por ano para obter conclusões sobre os números de pinguins imperador de uma determinada colónia poderá não ser a melhor forma, uma vez que as influências das variáveis estudadas levaram a números de indivíduos muito diferentes entre si. O uso destas variáveis será uma mais-valia e pode ajudar a contar o número de pinguins imperador, permitindo obter números mais próximos do real.

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Fonte: Labrousse, S., Iles, D., Viollat, L., Fretwell, P., Trathan, P. N., Zitterbart, D. P., Jenouvrier, S. & LaRue, M. (2022). Quantifying the causes and consequences of variation in satellite‐derived population indices: a case study of emperor penguins. Remote Sensing in Ecology and Conservation, 8(2), 151-165. https://doi.org/10.1002/rse2.233

Autor: Hugo Guímaro

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