Nos últimos anos, o desenvolvimento de tecnologias de senso remoto para o estudo da vida selvagem veio mudar a forma como podemos estudar certos ecossistemas, ecossistemas estes de difícil acesso aos cientistas por serem locais inóspitos. O uso de imagens de satélite de alta resolução é uma nova ferramenta que veio permitir estudar as populações do icónico pinguim imperador (Aptenodytes forsteri).
Estas imagens, de 30 a 60 cm de resolução, permitem distinguir estas aves marinhas durante a sua época de reprodução quando estas se encontram sob as plataformas de gelo ao longo da costa da Antártida. A sua deteção acontece quando os pinguins, normalmente em conjuntos de centenas ou milhares de indivíduos, deixam uma marca muito característica e de grande tamanho de guano (i.e., excrementos de aves marinhas), passível de se conseguir reconhecer nas imagens de satélite pelo contraste de cores do castanho do guano com o branco do gelo. Isto permitiu pela primeira vez fazer uma contagem do número colónias de pinguins imperador existentes ao redor da Antártida. Atualmente, sabe-se que existem 66 colónias.
Mas, como a perfeição é difícil de alcançar, todas as tecnologias acabam por ter as suas imperfeições e limitações. À data, para representação do número total de indivíduos de uma determinada colónia, apenas se usa uma imagem de satélite por ano. Mas será que este método é o mais correto? Será que essa imagem nos transmite a verdadeira dinâmica de uma colónia num ano? Foram essas questões que levaram investigadores norte-americanos e colegas internacionais a procurarem elucidar um pouco mais sobre as limitações que esta tecnologia pode ter para a contagem de pinguins imperador.
Neste estudo, os autores avaliaram dois tipos de variáveis que podem influenciar o número de pinguins contáveis numa determinada imagem de satélite de alta resolução. Estas são variáveis relacionadas com o próprio satélite (p.e., azimute solar), que podem projetar sombras na imagem impedindo a contagem correta das aves, ou variáveis ambientais (p.e., vento e temperatura), que podem influenciar a dispersão dos pinguins (pinguins mais dispersos são mais fáceis de contar).
Três das colónias mais representativas em termos de números foram usadas como locais de estudo: Atka Bay e Stancomb-Wills (colónias no sector do mar de Weddell) e Coulman Island (colónia no sector do mar de Ross).
Os autores concluíram que usar apenas uma imagem por ano para obter conclusões sobre os números de pinguins imperador de uma determinada colónia poderá não ser a melhor forma, uma vez que as influências das variáveis estudadas levaram a números de indivíduos muito diferentes entre si. O uso destas variáveis será uma mais-valia e pode ajudar a contar o número de pinguins imperador, permitindo obter números mais próximos do real.
——————————
Fonte: Labrousse, S., Iles, D., Viollat, L., Fretwell, P., Trathan, P. N., Zitterbart, D. P., Jenouvrier, S. & LaRue, M. (2022). Quantifying the causes and consequences of variation in satellite‐derived population indices: a case study of emperor penguins. Remote Sensing in Ecology and Conservation, 8(2), 151-165. https://doi.org/10.1002/rse2.233
Autor: Hugo Guímaro