A Antártida e o Oceano Austral, continuam hoje a ser dos locais mais remotos do planeta. Contudo, como consequência do crescimento humano, também estes locais estão cada vez mais a ser sujeitos às pressões das atividades antropogénicas.
Neste contexto, inúmeros estudos têm documentado a poluição por plásticos, nas últimas décadas, de modo a compreender melhor a escala desta problemática.
O pensamento mais vulgar na sociedade, quando falamos em plástico, é sempre como objetos de grandes dimensões como garrafas, sacos, entre outros, no entanto, o problema dos plásticos é mais grave devido à sua fragmentação, que acaba por produzir milhares de pedaços mais pequenos, muitos quase ou mesmo invisíveis a olho nu. Há diferentes categorias, mas estes podem ser desde os nano-plásticos (< 1 nanometro) aos macro-plásticos (> 10 milímetros).
Este estudo revela assim uma visão global do estado atual dos plásticos na Antártida, as possíveis fontes, impactos e medidas que estão a ser tomadas. Os nano-plásticos têm normalmente origem nos produtos comercias e a sua consequente fragmentação, na atividade farmacêutica, detergentes, cosméticos, etc. Apesar de remota, uma parte considerável da ocorrência na Antártida é trazida devido às correntes oceânicas e atmosféricas, que acabam por agregar o “lixo” marinho mais fortemente numas regiões que outras. Atualmente, a região da península Antártica, no sector atlântico do oceano Austral, é a região mais afetada na Antártida, e igualmente a que mais pressão humana sofre. Além das origens acima mencionadas, a pesca e o turismo são também das principais fontes de poluição de plásticos no oceano Austral.
Além da presença destes nos oceanos, plataformas de gelo, continentes e ilhas antárticas, também nas várias espécies foram já documentadas a ingestão de plásticos, desde aves (ex.: albatrozes, pinguins), peixes (ex.:peixe-gelo, bacalhau da patagónia), bentos (ouriço do mar), etc.
Entre os impactos, o plástico pode servir como transportador de bactérias e patogénicos, que não ocorrem normalmente na Antártida, e com isso ter graves consequências para a fauna e flora locais. A ingestão pelas diversas espécies, pode também trazer riscos de saúde para os próprios animais, visto muito destes plásticos possuírem químicos tóxicos na sua composição. Por outro lado, a ingestão de pedaços de grandes dimensões, como cordas, redes de pesca, linhas, já provocou a morte a inúmeros indivíduos ou situações de estrangulamento, o que provoca feridas e inflamações graves.
Atualmente, com o reconhecimento deste problema, muitos dos intervenientes mais ativos nesta região têm vindo a criar condições e medidas que visam a redução da introdução de plástico nesta zona crucial do planeta Terra. Como exemplo, o Comité Científico de Investigação na Antártida (SCAR) criou em 2018 um grupo de trabalho dedicado exclusivamente à compreensão e avaliação das diferentes fontes, distribuição e ocorrência do plástico. O próprio Tratado da Antártida, está também a integrar este novo desafio, e o seu anexo IV, menciona já a total proibição de qualquer descarte de plástico para águas antárticas. Por sua vez a Convenção para a Conservação dos Recursos Vivos Marinhos Antárticos (CCAMLR) tem imposto a redução de vários objetos de plástico ao mínimo possível nas atividades de pesca. Por último, o turismo tem cada vez mais realizado atividades educativas neste âmbito, de limpeza das costas, e apoiado a investigação e conservação neste sentido.
Pela frente, há ainda o desafio de compreender o melhor possível quais os verdadeiros efeitos que o plástico terá nesta região, e como os poderemos mitigar eficazmente. Contudo os intervenientes, desde governos, empresas, turismo, ciência, estão a mover-se na direção para juntos combaterem este problema.
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Fonte: Caruso, G., Bergami, E., Singh, N., & Corsi, I. (2022). Plastic occurrence, sources, and impacts in Antarctic environment and biota. Water Biology and Security, 100034. https://doi.org/10.1016/j.watbs.2022.100034
Autores: Diana Rodrigues e José Abreu