Pesca de arrasto e a comunidade de Esponjas no Mar de Barents

A pesca de arrasto, como o próprio nome indica, consiste em uma grande rede cónica com uma boca larga e uma pequena extremidade fechada. Neste tipo de pesca, o resultado é apanha de um grande número de peixes. Por um lado, a pesca de arrasto enche as prateleiras do supermercado e peixarias, mas por outro esvazia o fundo do mar. O desaparecimento de fauna e flora marinha provocado neste tipo de pesca já chegou a um dos locais mais remotos do planeta, o Mar de Barents (Oceano Ártico).

O Mar de Barents é um habitat bastante rico, e de elevada produtividade primária, tornando este local um habitat importante para inúmeras espécies, como por exemplo as esponjas marinhas. Neste local é possível encontrar uma grande comunidade de esponjas marinhas, como por exemplo a Geodia barretti. Estas são consideradas fundamentais para o habitat e servem de indicadores naturais de Ecossistemas Marinhos Vulneráveis. No entanto, o ritmo de pesca de arrasto cada vez mais elevado provoca danos no fundo do mar, que muitas vezes são irreversíveis.

Figura 1. Geodia barretti, uma espécie de esponja que se pode encontrar no Mar de Barents.

Este estudo teve como objetivo analisar os efeitos da pesca de arrasto na abundância de Geodia spp. e diversidade de espécies da fauna associada. Para isso, usou-se imagens recolhidas por um ROV (Veículo Operado Remotamente), onde se comparou dois locais com níveis de arrasto completamente diferentes, sendo que um local com baixo impacto, e outro local, é fortemente impactado pela pesca de arrasto. Através da análise entre os dois locais é possível verificar as consequências que o arrasto a longa duração cria. No local em que o arrasto não é tão frequente, foi possível encontrar uma comunidade de esponjas relativamente diversa e abundante, contrastando com o local onde o arrasto é frequente.

Figura 2. Impacto da pesca de arrasto nas comunidades onde (a) não é frequente (b) é frequente.

Vários estudos demonstraram que a continuidade dos arrastos no mesmo local leva a alterações funcionais nas comunidades bentónicas. As esponjas apresentam uma alta taxa de filtração, o que as permite retirar uma elevada quantidade de partículas do ambiente, incluindo vírus e outros patogénicos. No entanto, caso a intensidade da pesca de arrasto continue a aumentar, levando a uma diminuição de abundância de esponjas no Mar de Barents, este habitat vai sofrer um aumento na quantidade de carbono particulado depositado no fundo do mar. Com o aumento de carbono, este local torna-se mais favorável para espécies que se alimentam de matéria orgânica morta. Que por sua vez, leva à alteração da diversidade funcional do sistema.

Os autores concluíram que a pesca de fundo significativamente as comunidades de esponjas, reduzindo a abundância e o tamanho das esponjas e criam uma mudança nas espécies e na diversidade funcional e, posteriormente, na função e nos serviços do ecossistema.

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Fonte: Colaço, A., Rapp, H. T., Campanyà-Llovet, N., & Pham, C. K. (2022). Bottom trawling in sponge grounds of the Barents Sea (Arctic Ocean): A functional diversity approach. Deep Sea Research Part I: Oceanographic Research Papers, 183, 103742.

Autora: Eva Lopes

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