Simbiose entre a Arte e Ciência Polar

No passado, os artistas acompanhavam as expedições científicas para ilustrarem as descobertas, paisagens, novas espécies entre outros. Mais tarde, os fotógrafos começaram a integrar as campanhas como fonte de inspiração do seu trabalho, e realização posterior de exposições.

A Antártida é um local inóspito, pouco apelativo para o turismo de massas, com condições extremas, onde apenas poucas pessoas conseguem acesso, o que tornava a presença nas expedições científicas ainda mais especiais e exclusiva.

Na Antártida, a produção e formação dos cristais no oceano e na camada inferior do gelo marinho, e o pouco conhecimento que havia deste fenómeno, suscitou uma investigação aos mesmos. Estes cristais influenciam processos de transferência de calor para o oceano, a taxa de crescimento do gelo, a força do gelo e ainda como a espessura do gelo pode ser analisada por deteção remota.

Por mais de uma década os cientistas tentavam analisar e entender as implicações destes cristais sobre o gelo marinho, através de várias experiências para tentar categorizá-los e dimensioná-los. Assim, elaborou-se um projeto artístico numa tentativa de ajudar a dar resposta a este desafio científico.

O estudo baseou-se em várias experiências “in situ” ao longo de várias semanas, num pequeno campo de gelo marinho, através de buracos derretidos de gelo marinho no McMurdo Sound no Mar de Ross, durante duas campanhas. As medições científicas capturaram a hidrografia da coluna de água, a natureza da estrutura de cristal de gelo e a interação entre os dois, procurando assim melhor definir a transferência de calor entre o oceano e o gelo. A componente artística envolveu a produção de arte representativa e não representativa, de modo a acompanhar a linha científica, como por exemplo: pinturas, esboços, vídeo e fotografias. Foi desenvolvido um estúdio de iluminação adequado utilizando fontes luminosas não emissoras de calor. Cada cristal foi esboçado, e realizaram-se anotações ao redor da sua estrutura.

Na segunda campanha, realizada no ano seguinte, o número de cristais examinados foi aumentado. A análise artística consistiu numa iluminação colorida que penetrou nos cristais de diferentes maneiras. Outra experiência incluiu a colocação de um fundo de tecido nas fotografias com uma barra de escala, permitindo a medição dos mesmos. Com este maior número de cristais medidos, o artista tentou procurar formas de capturar com eficiência os dados e a história dos cristais. A partir das semelhanças e diferenças tentaram criar retratos individuais e de família. Eis alguns exemplos.

Figura (Da esquerda para a direita): Cristais individuais da exposição Data Days, Aguarela do studio Antarctica, Família de cristais da exposição Data Days. Imagem a 150 mm. Stevens C. et al., 2019.

A Arte e a Ciência Polar podem estar unidas para a melhoria da análise científica. A arte poderá permitir uma reavaliação e mudança de perspetiva do trabalho do investigador bem como uma maneira mais eficiente de passar de mensagens para o público, neste caso, com uma conexão entre as questões climáticas de grande escala e pequena escala.

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Fonte: Stevens C, O’Connor G, and Robinson N. The connections between art and science in Antarctica: Activating Science*Art. Polar Record https://doi.org/10.1017/S0032247419000093

Autora: Filipa Fernandes

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