Pinguins Rei – eventos climáticos com diferentes resultados!

Os eventos caracterizados por altas temperaturas nos oceanos têm vindo a ser cada vez mais comuns, incluindo no Oceano Austral.

Oceano este, onde habitam inúmeras espécies, grande parte endémicas desta região, devido à dinâmica e interação de correntes de água desta parte do planeta, e que acabam por ser bastante mais sensíveis a estes eventos. Uma das correntes mais importantes para presas e predadores no Oceano Austral, é a Frente Polar. Contudo com o progressivo aumento da temperatura no oceano, espera-se que a Frente Polar se contrai-a em direção a sul, ao continente Antártico. Assim estas mudanças espaciais da Frente podem causar dificuldades para os predadores que nela procuram as suas presas.

Interessantemente, estas alterações climáticas no oceano, ao contrário do que habitualmente julgamos, podem ter consequências diferentes na mesma espécie.

É aqui que entram os Pinguins Reis. Entre as várias colónias que existem espalhadas no Pólo Sul, duas delas encontram-se nas ilhas Kerguelen e nas ilhas Crozet, que se distanciam 1400km. No entanto, nos últimos anos, tem tido direções diferentes, com a população das Kerguelen a crescer e das ilhas Crozet a diminuir significativamente.

Assim de modo a perceber a influência destes eventos com altas temperaturas no oceano nestas populações e averiguar se seriam cúmplices deste desfecho, uma equipa analisou 25 anos de dados. Analisaram onde os pinguins procuravam alimento e quanto demoravam, o número e o sucesso das crias, incluindo o seu peso.

Figura 1. Ilhas Kerguelen e Crozet. Posição da Frente Polar e colónias de Pinguins Rei.

Os resultados são interessantes, e completamente distintos.  No geral confirmaram que o sucesso reprodutivo dos pinguins rei, varia dramaticamente de ano para ano, sobretudo devido às diferenças climáticas. Contudo de forma diferente nas duas ilhas. Nas Kerguelen a posição da frente é muito mais próxima à ilha, e as alterações que sofre na sua posição no oceano não afetam significativamente a captura de presas para as crias por parte dos casais pinguins. Os investigadores sugerem inclusive, que é possível que estas temperaturas mais altas estejam a ter um efeito positivo na abundância e crescimento das presas e consequentemente um maior sucesso reprodutivo na população de pinguins. Paralelamente, durante o inverno, estas condições mais quentes estarão a aumentar a probabilidade de sobrevivência das crias. Nas Ilhas Crozet, a população de pinguins rei tem vindo a diminuir. Nesta ilha posição da Frente Polar, tem variado entre os 217 e 642km à ilha, 10x mais quando comparado com as Kerguelen. Devido as características de cada região, a posição da Frente Polar é muito mais móvel em Crozet, sendo ainda mais acentuado durante estes eventos de temperaturas oceânicas altas. Assim, os pinguins rei vem se obrigados a percorrer maiores distâncias para encontrar presas, quando comparado com Kerguelen. Consequentemente, este aumento no gasto de tempo e energia, e por vezes insucesso na captura de presas, se reflita numa maior probabilidade de morte das crias.

No futuro com o continuar destas alterações e eventos climáticos, a Frente Polar deverá continuara também a deslocar-se para sul. Assim como podemos constatar o mesmo processo terá resultados completamente distintos nos pinguins rei de duas ilhas subantárticas. Esperando que a população em Kerguelen continue a crescer e venha a substituir a colónia de Crozet, que continua a ver os números a diminuir.

Assim, é sempre importante avaliar e ter em consideração não só os processos em grande escala como as características locais e regionais de modo a obter resultados mais fiáveis com que possamos agir corretamente.


Fonte: Brisson‐Curadeau, É., Elliott, K., & Bost, C. A. (2022). Contrasting bottom‐up effects of warming ocean on two king penguin populations. Global Change Biology https://doi.org/10.1111/gcb.16519

Autor: José Abreu

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