Como identificamos regiões altamente importantes ecologicamente?

Os humanos e as suas atividades alteraram os ecossistemas marinhos ao longo da história e mais recentemente no tempo, as Áreas Marinhas Protegida (MPA) tornaram-se uma ferramenta cada vez mais popular e de reposta para a conservação e gestão da biodiversidade.  Ao longo de quase 20 anos, várias iniciativas internacionais apelaram à adoção de redes representativas de Áreas Marinhas Protegidas (MPA), e mais recentemente, em 2015, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 das Nações Unidas voltou a mencionar a necessidade critica de proteger o mínimo de 10% das áreas costeiras e marinhas. Posteriormente, apesar de a proteção global de áreas marinhas protegidas tenha aumentado de 2,9 para 7,5% de 2010 a 2019, ainda fica aquém da meta de Aichi de 10% (2020) e, de facto, metas mais altas de 30% podem ser necessárias.  Além disso, as Áreas Marinhas Protegidas onde apenas as atividades humanas leves são permitidas, isto é, sem pesca, tráfico elevado, entre outras, cobrem apenas 2,7% dos oceanos.

Definir estas Áreas é particularmente complexo, muitas das vezes inclui águas internacionais, ou águas em zonas económicas exclusivas de diferentes países, ou mesmo áreas importantes de recursos marinhos. No entanto é crucial que estas áreas englobem zonas altamente importantes ecologicamente para o maior número de espécies possíveis.

Assim este estudo, conduzido no Oceano Austral que circunda todo o continente Antártico, procurou identificar as áreas mais importantes de 17 espécies de aves e mamíferos marinhos que habitam e/ou usam esta região, desde espécies pinguins, albatrozes, foca, baleias etc. Esta identificação foi feita através do uso de dados obtidos por GPS (colocados nas diferentes espécies), que desta forma nos dá a localização e movimentos dos animais, em resposta a mais de 15 variáveis ambientais (ex.: concentração de gelo, profundidade, salinidade etc.) Por fim, com o uso de modelos computacionais, foi possível identificar áreas ecologicamente importantes para um grande número de espécies, representado assim áreas cruciais para o sucesso das mesmas (Figura 1).

Figura 1. Mapa do Oceano Austral e as correntes Áreas Marinhas Protegidas (cor de laranja), e as Áreas propostas (cor-de-rosa).

Por fim, este conhecimento aumenta consideravelmente a nossa compreensão desta região e ajuda a estabelecer que zonas e áreas deverão ser no futuro potencialmente protegidas e declaras como Áreas Marinha Protegidas pela sua importante função ecológica.

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Fonte:

Reisinger, R. R., Brooks, C. M., Raymond, B., Freer, J. J., Cotté, C., Xavier, J. C.,.. & Hindell, M. (2022). Predator-derived bioregions in the Southern Ocean: Characteristics, drivers and representation in marine protected areas. Biological Conservation272, 109630.

Hindell, M.A., Reisinger, R.R., Ropert-Coudert, Y. et al. Tracking of marine predators to protect Southern Ocean ecosystems. Nature 580, 87–92 (2020). https://doi.org/10.1038/s41586-020-2126-y

Autor: José Abreu

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