Como fortalecer a ligação entre a ciência e a política?

A Antártida encontra-se ameaçada pelo crescente impacto de diversas atividades antropogénicas que afetam os seus valores ambientais, científicos e históricos. Alguns dos impactos incluem as alterações climáticas, poluição, destruição de habitat, perturbações da vida selvagem e introdução de espécies não nativas. De modo a fomentar acordos internacionais juridicamente vinculativos, investigadores trabalharam colectivamente para desenvolver políticas ambientais na Antártida. As vias de comunicação ciência-política da Antártida, presentes na figura 1, demonstram a interligação entre os vários intervenientes. No que diz respeito à concepção de informação, cabe aos cientistas conduzirem investigação para se formularem decisões que resultem numa gestão positiva do ambiente Antártico.

Fig.1 Vias de comunicação ciência-política antártica. ATCM= Reunião Consultiva do Tratado Antártico; CEP= Comité de Proteção Ambiental; SC-CAMLR= Comité Científico para a Conservação dos Recursos Vivos Marinhos Antárticos ; SCAR= Comité Cientifico de Pesquisa Antártica.

O Comité Cientifico de Pesquisa Antártica (SCAR) conta já com uma grande base de informação que permite que as autoridades políticas tenham acesso a dados científicos relevantes e de confiança. O protocolo de proteção ambiental do tratado da Antártida trabalha no sentido de avaliar o impacto ambiental de determinadas atividades, tais como a conservação da fauna e flora, a eliminação e gestão de resíduos, e a proteção e gestão da área.

É vantajoso a ciência contribuir para a formulação de políticas, uma vez que permite:

  • Compreender e responder às consequências ambientais das mudanças climáticas na Antártida;
  • Abordar os riscos à biodiversidade associados com a introdução de espécies exóticas e a transferência de espécies nativas entre biorregiões dentro da Antártida;
  • A gestão adequada dos impactos ambientais do turismo e de atividades não governamentais; e
  • Melhorar a eficácia da gestão de áreas protegidas, inclusive o aumento do sistema de áreas protegidas da Antártida.

O envolvimento de cientistas de vários países e/ou apoio multinacional para evidências de pesquisa apresentadas pode facilitar a construção do Sistema do Tratado da Antártida (ATS). Quanto maior o envolvimento de jovens cientistas, inclusive por meio da Associação de Jovens Cientistas Polares (APECS), maior a oportunidade para aprimorar a interface entre ciência e política.

Os autores deste artigo explicam, ainda, como melhorar o processo de elaboração de políticas. Por exemplo, uma maior consciencialização por parte da comunidade cientifica sobre as oportunidades de informar a formulação de políticas ambientais dentro do ATS. Também, uma comunicação mais clara do ATCM e do CEP relativamente às lacunas específicas de conhecimento que deverão ser preenchidas, contribuindo assim para o progresso da proteção ambiental antártica. A SCAR poderia, ainda, auxiliar de modo a fortalecer substancialmente a comunicação dos seus membros sobre as áreas de pesquisa necessárias para a ATCM e para o CEP. É também importante continuar a informar a comunidade científica através de reuniões sobre as rotas onde se formam políticas relevantes, a partir de uma boa comunicação cientifica aos formuladores de políticas.

A cooperação entre cientistas e políticos torna eficaz a implementação de medidas que fortalecem a estrutura governamental da Antártida, um continente que equivale ao espaço da Europa. É preciso ainda uma melhor comunicação cientifica e política, combinada com um melhor plano de financiamento para a ciência, relevante para políticas de proteção do meio Antártico.


Referência: Hughes, K. A., Constable, A., Frenot, Y., López-Martínez, J., McIvor, E., Njåstad, B., Terauds, A., Ligget, D., Roldan, G., Wilmotte, A. &  Xavier, J. C. (2018). Antarctic environmental protection: Strengthening the links between science and governance. Environmental Science & Policy, 83, 86-95. https://doi.org/10.1016/j.envsci.2018.02.006

Autora: Raquel Coimbra

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