O Mar de Ross e os seus produtores primários

O Mar de Ross é uma das áreas mais produtivas do Oceano Antártico, sendo uma área caracterizada por uma elevada variedade sazonal e regional, da produção primária e dos processos de exportação de carbono através da coluna de água. Estas variações sazonais estão ligadas à formação, ao derretimento do gelo marinho e à variação da dinâmica da coluna de água.

Estas variáveis podem vir a mudar, por exemplo, a introdução de água doce pelo derretimento do gelo marinho tem sido reconhecida como principal impulsionador na diminuição de dinamismo da coluna de água durante as estações primavera-verão. Estas e outras mudanças podem ter efeitos significativos sobre as comunidades de fitoplâncton [1], comunidades essas que tem um papel relevante nos processos biogeoquímicos [2] do oceano.

Um dos tipos de fitoplâncton mais importantes na região da Antártica são as diatomáceas. Estes organismos contribuem com 75% da produção primária no Oceano Antártico e servem de suporte para muitas das redes tróficas [3] da região. As diatomáceas podem ser divididas em dois grupos principais:  as penadas e as cêntricas. Estes grupos apresentam diferenças na forma corporal, entre outras. Como tal, os investigadores deste estudo tiveram como objetivo descrever a distribuição dos diferentes grupos de diatomáceas no Mar de Ross. Para isso, foram realizados 2 cruzeiros oceanográficos durante o verão austral de 2014 e 2017.

Nos verões de 2014 e 2017, a distribuição superficial de diatomáceas foi dominada por diatomáceas penadas (Fragilariopsis spp. e Pseudo-nitzschia spp.). No entanto, foi observada uma variação temporal na comunidade, principalmente dominada por diatomáceas penadas para dominadas por diatomáceas cêntricas, em fevereiro de 2014 e 2017.

Em geral, as comunidades de fitoplâncton foram muito parecidas entre cruzeiros, apesar das concentrações atingidas serem diferentes (Fig. 1)[RM1] . Uma mudança nas concentrações dos grupos de diatomáceas em águas superficiais concorda com a observação de outros autores.

Fig. 1. Distribuição espacial e temporal dos géneros mais abundantes de diatomáceas, amostrados à superfície da coluna de água. Os histogramas representam as concentrações de distomáceas nas estações RoME I, RoME II e RoME III, em 2014, e nas estações TNB, AMG, Central Rose Sea (Central) e Cape Adare (Adare), em 2017. Os círculos representam a percentagem de contribuição de distomáceas penadas e cêntricas dentro da total abundância de cada estação.

Este estudo foi a primeira descrição da diversidade de grupos de diatomáceas no Mar de Ross e, tal como esperado, as alterações das variáveis no meio afetam a distribuição do fitoplâncton na coluna de água. A dinâmica da rede trófica das regiões polares depende exclusivamente da comunidade fitoplanctónica e das suas variações que podem ter efeitos nos ciclos biogeoquímicos. A falta de estudos nesta área foi realçada pelos autores, assim como a importância de serem realizados mais estudos sobre estas comunidades ainda desconhecidas.

Os organismos mais pequenos também são muito importantes para o equilíbrio nos nossos ecossistemas!

[1] Fitoplâncton: Conjunto de organismos aquáticos microscópicos que têm a capacidade de realizar a fotossíntese e que vivem a flutuar ao longo da coluna de água.

[2] Processos biogeoquímicos: Também conhecido como ciclo da matéria, é o processo de passagem do meio ambiente (componentes físicos-químicos) para os organismos vivos e destes de volta para o meio.

[3] Rede trófica: Interligação dentro de um ecossistema, com transferências de matéria e energia entre organismos.


Referência: Saggiomo, M., Escalera, L., Bolinesi, F., Rivaro, P., Saggiomo, V., & Mangoni, O. (2021). Diatom diversity during two austral summers in the Ross Sea (Antarctica). Marine Micropaleontology, 165. https://doi.org/10.1016/j.marmicro.2021.101993

Autora: Graça Sofia Nunes

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