A presença de microplásticos em organismos marinhos é uma preocupação crescente em todo o mundo, uma vez que estes materiais têm efeitos nocivos na saúde animal e no ecossistema como um todo. O artigo selecionado deste mês é referente ao estudo dos níveis de microplásticos no tecido adiposo de focas aneladas (Pusa hispida) no Ártico.
Entre 2017 e 2019, amostras do tecido adiposo de focas aneladas capturadas por caçadores indígenas no oeste do Canadá foram examinadas. A técnica utilizada para a análise apresenta capacidade para detectar microplásticos de dimensões tão pequenas quanto 10 mícrons. Surpreendentemente, os resultados indicaram que nenhuma das amostras continha microplásticos detectáveis. Isto difere de estudos anteriores onde foram encontrados altos níveis de microplásticos no tecido adiposo de outras espécies de focas, como as focas-de-bandas.
As fibras são geralmente o tipo mais comum de microplásticos encontrados em mamíferos marinhos, seguidas por fragmentos e filmes. Embora os investigadores tenham encontrado pequenas fibras plásticas nas amostras, acredita-se que tiveram origem de contaminação por manipulação em laboratório. Cohen’s D, ou diferença média padronizada, é uma das maneiras mais comuns para calcular o quão significativo um efeito é, que neste caso representa a ingestão de microplásticos. Neste estudo, para a amostra com o uso de conteúdo de 10 focas, o efeito observado foi de 0,37. Para este valor ser considerado significativo, seria necessário a amostra ser composta por 91 indivíduos, sendo que com 10 indivíduos, o efeito só seria significativo com um valor Cohen’s D de 1,16 (linhas azul e vermelha, respetivamente, Fig.1).
De acordo com os investigadores, a ausência de microplásticos em focas aneladas neste estudo pode estar relacionada com uma menor ingestão de microplásticos, em comparação com outros animais marinhos. A sua alimentação preferencial por peixe apresenta uma menor probabilidade de ingestão de microplásticos, ao contrário de uma dieta que seja dominada por invertebrados bentónicos. No entanto, também é possível que a técnica utilizada para analisar as amostras não tenha sido sensível o suficiente para detectar microplásticos de dimensões menores, ou que região de estudo específica do Canadá não esteja exposta aos mesmos níveis de microplásticos que outras áreas.
Este estudo oferece algumas boas notícias sobre a ausência de microplásticos em populações de focas aneladas do oeste do Canadá, mas é importante lembrar que outros estudos encontraram altos níveis de microplásticos noutras partes do mundo. Portanto, é crucial continuar a pesquisar a presença e os efeitos dos microplásticos nos ecossistemas marinhos para entender melhor os seus impactos e tomar medidas para proteger a vida marinha e a saúde humana.
No geral, o artigo destaca a necessidade de se continuar a investigar os microplásticos e os seus efeitos em organismos marinhos. Além disso, enfatiza a importância de se tomarem medidas para reduzir a quantidade de poluição de plásticos no oceano, como a redução do uso de plásticos e a melhoria dos sistemas de gestão de resíduos. Ao trabalharmos juntos para enfrentar este problema global, podemos ajudar a proteger os ecossistemas marinhos e os animais que dependem deles para sobreviver!
Referência: Jardine, A.M., Provencher, J.F., Insley, S.J., Tauzer, L., Halliday, W.D., Bourdages, M.P.T., Houde, M., Muir, D., Vermaire, J.C. (2023). No accumulation of microplastics detected in western Canadian ringed seals (Pusa hispida). Mar Pollut Bull. 2023 Mar;188:114692
DOI: 10.1016/j.marpolbul.2023.114692
Autora: Laura Lopes