O Oceano Antártico, que circunda a Antártida, possui ventos e correntes predominantemente ocidentais, e contém enumeras ilhas oceânicas isoladas. A sua paisagem biológica tem intrigado há muito os investigadores devido à sua suscetibilidade a mudanças climáticas de larga escala. Ao longo da história, variações climáticas, especialmente durante os ciclos glaciais-interglaciais, como os da Era Glaciar do Pleistoceno, têm provocado mudanças significativas na distribuição das espécies em várias regiões globalmente.
Eventos de degelo pronunciado fornecem oportunidades ecológicas significativas para as espécies sobreviventes. Estudos genéticos sugerem que algumas espécies altamente dispersivas, como a foca-elefante do Sul, tiveram respostas rápidas a estas mudanças, colonizando rapidamente habitats recém-disponíveis após o degelo, mas foram posteriormente erradicadas com o regresso das calotes de gelo.
O Pintarroxo, um grupo rico de aves marinhas encontrado no Oceano Antártico, apresenta um caso convincente para compreender a dinâmica evolutiva e biogeografia das espécies nesta região. Com a sua distribuição circumpolar que engloba numerosas ilhas isoladas, o Pintarroxo oferece valiosas informações sobre o impacto das mudanças climáticas na dispersão e especiação das espécies.

A biogeografia dos pintarroxos pode ser representativa de taxa com características de dispersão tanto altamente quanto pouco dispersivas ao mesmo tempo. Embora exibam uma ampla distribuição pelas ilhas da Antártida, como as espécies altamente dispersivas, também demonstram elevados níveis de endemismo, dentro de cada ilha, típicos de táxons menos dispersivos. Esta situação paradoxal levanta questões sobre os mecanismos que impulsionam a especiação nessas aves, o que motivou este estudo.
Ao realizar análises genéticas, os autores descobriram que os pintarroxos têm uma história evolutiva notavelmente curta entre linhagens endêmicas que se reproduzem em ilhas dispersas pelo vasto Oceano Austral. Sugerindo eventos de radiação recentes, provavelmente influenciados por flutuações climáticas, como as que ocorreram durante o final do Pleistoceno (Figura 1).
Os padrões filogeográficos observados nos pintarroxos sugerem múltiplas ondas de dispersão da América do Sul para diferentes regiões, incluindo o subantártico e a Nova Zelândia. Acredita-se que os taxa na região da Nova Zelândia descendem de uma onda de migração precedente, mais tarde limitada devido a um novo período glacial, enquanto aqueles no subantártico provavelmente colonizaram mais recentemente, quando a cobertura de gelo marinho recuou novamente, permitindo essas migrações (Figura 1).
Além disso, evidências genéticas sugerem que muitos taxa de pintarroxo surgiram através da especiação por “eventos de fundador”, onde as populações descendem de apenas um pequeno número de indivíduos fundadores. Isso destaca a importância de processos estocásticos na formação da diversidade genética e distribuição das aves marinhas do Oceano Antártico.
No geral, o Pintarroxo serve como um modelo fascinante para estudar a interação entre história evolutiva, mecanismos de dispersão e fatores ambientais na formação da distribuição e diversidade de espécies no Oceano Antártico.
Referência: Rawlence, N. J., Salis, A. T., Spencer, H. G., Waters, J. M., Scarsbrook, L., Mitchell, K. J., & Kennedy, M. (2022). Rapid radiation of Southern Ocean shags in response to receding sea ice. Journal of Biogeography, 49(5), 942-953.
https://doi.org/10.1111/jbi.14360
Autor: Lucas Bastos