O Oceano Austral é fundamental para os restantes oceanos, sendo responsável por um terço do sequestro oceânico de dióxido de carbono globalmente, desempenhando assim um papel crucial na mitigação das alterações climáticas ao reduzir a quantidade deste na atmosfera. A Península Antárctica Norte (PAN), localizada na Antártida Ocidental, e dentro na Antártida é a região que apresenta o aquecimento mais rápido na temperatura do oceano e na atmosférica.
As pressões causadas pelas alterações climáticas irão moldar as comunidades biológicas ao longo da PAN. Por exemplo, na base da cadeia alimentar, as pressões terão consequências no fitoplâncton, podendo vir a alterar as comunidades deste na região bem como a sua morfologia.
Embora se preveja que a resposta das comunidades locais de fitoplâncton seja diferente a curto e a longo prazo, espera-se uma tendência para fitoplâncton com uma morfologia mais pequena e com flagelo (cauda). Estas mudanças podem ter impactos para o ecossistema (Figura 1), pois os restantes elementos deste, como o krill, podem não suportar as alterações. A longo prazo, espera-se que os efeitos das alterações climáticas se intensifiquem, o que poderá levar a outra alteração da comunidade.
O conhecimento atual desta região fornece informações sobre a reposta do fitoplâncton às alterações climáticas e sobre o que poderá acontecer. Porém, é necessário um esforço coordenado para compreender e prever de forma abrangente as alterações que irão acontecer as comunidades na região.
A principal lacuna de conhecimento na PAN é a relação intrínseca e elusiva entre as alterações climáticas antropogénicas e a variabilidade climática natural. A avaliação do impacto das alterações climáticas exige a separação entre a variabilidade interna natural e as alterações que ocorrem a longo prazo.
Para combater esta lacuna, é necessário seguir várias direções de investigação para o futuro (Figura 2), juntamente com a expansão do atual esforço de amostragem, para o qual dispomos de diferentes métodos que poderão ser utilizados, tais como sensores ligados animais, satélites de cor dos oceanos, flutuadores biogeoquímicos, planadores subaquáticos e mais expedições em navios para recolher dados in-situ.
É importante avaliar a forma como a possível mudança na composição do fitoplâncton afetará o bem-estar e os processos oceânicos normais. A compreensão das respostas do fitoplâncton às alterações climáticas será impossível sem um melhor conhecimento da fisiologia do fitoplâncton na PNA, para isto é necessário realizar estudos com vários fatores de pressão, como a luz, a salinidade e o dióxido de carbono, centrados na resposta das principais espécies de fitoplâncton a estes. Obter este conhecimento só será possível com a intercolaboração dos programas de investigação polares e da comunidade científica no âmbito de um quadro de investigação comum.
Referência: Ferreira A, Costa RR, Dotto TS, Kerr R, Tavano VM, Brito AC, Brotas V, Secchi ER and Mendes CRB (2020) Changes in Phytoplankton Communities Along the Northern Antarctic Peninsula: Causes, Impacts and Research Priorities. Front. Mar. Sci. 7:576254.
https://doi.org/10.3389/fmars.2020.576254
Autora: G. Sofia Nunes