A Noruega é um país que tem estado na vanguarda no combate às alterações climáticas. De facto, tem havido um grande investimento e incentivo do governo norueguês na produção de energias renováveis com vista a reduzir a dependência em combustíveis fósseis. Tem, portanto, havido um aumento considerável de grandes parques eólicos com vista a assegurar uma transição energética amiga do ambiente e focada em cumprir o Acordo de Paris.
Este artigo quer, fundamentalmente, chamar a atenção para o outro lado da medalha no que concerne ao tópico das transições energéticas. Por um lado, as políticas nacionais são promotoras da sustentabilidade e da ecologia, onde as grandes empresas de energias renováveis consolidam os seus negócios e indústrias. Por outro lado, esta transição energética (“mais amiga do ambiente”) tem um efeito negativo nas pequenas comunidades e nas suas tradições socioculturais.
O caso da minoria Sámi (Figura 1), no território norueguês, é um exemplo deste paradoxo entre os benefícios das energias verdes e da sobrevivência da comunidade Indígena.

A construção de vastos parques eólicos, que atravessam o território destinado ao pastoreio de renas (Figura 2), constitui um exemplo flagrante de como uma transição verde abrupta e forçada põe em risco uma das principais actividades desta comunidade (Figura 3). Por outras palavras, a instalação de centrais eléctricas ameaçam a continuação da pastorícia dos rebanhos de renas e das tradições Sámi.


O Povo Sámi, há muito estabelecido no Norte da península Escandinava e de Kola, tem um passado de colonialismo onde foi assimilando costumes ocidentais. A imposição do colonialismo foi uma ameaça à continuidade desta minoria. Porém, as comunidades têm sido resilientes e capazes de arranjar soluções para manterem a sua identidade e cultura. Com efeito, em 1989, foi criada a Lei Norueguesa Sámi onde o governo norueguês tem o dever de garantir que a cultura das comunidades Sámi é protegida e devem assegurar o bom funcionamento da Assembleia Sámi. Para além disso, também o governo tem de garantir que a comunidade é ouvida antes de tomar decisões para o país.
Desta forma, no artigo são analisadas entrevistas a pessoas (Sámi) ligadas à actividade da pastorícia de renas e é feito um balanço do impacto que a instalação de campos eólicos tem na comunidade. Paralelamente, é possível verificar um sentimento de falta de compromisso do governo norueguês para com os Sámi e de como esta comunidade quer continuar a lutar para ser ouvida.
Concluindo, a transição para energias mais verdes pode e deve ser feita, mas deve incluir as comunidades Indígenas que vivem dentro dos territórios soberanos. A inclusão da voz dos Sámi neste processo é fundamental para que a transição energética seja, de facto, para todos. É também importante alertar para os perigos de exclusão das minorias de forma a ajudar a criar uma opinião pública bem informada e capaz de reconhecer que as comunidades também têm o direito de ser ouvidas e salvaguardadas pela justiça.
Referência: Normann, S. (2021). Green colonialism in the Nordic context: Exploring Southern Saami representations of wind energy development. Journal of Community Psychology, 49(1), 77–94.
https://doi.org/10.1002/jcop.22422
Autor: Santiago Villalobos Dantas