O (não-)Altruísmo da Transição Verde na Comunidade Saami

A Noruega é um país que tem estado na vanguarda no combate às alterações climáticas. De facto, tem havido um grande investimento e incentivo do governo norueguês na produção de energias renováveis com vista a reduzir a dependência em combustíveis fósseis. Tem, portanto, havido um aumento considerável de grandes parques eólicos com vista a assegurar uma transição energética amiga do ambiente e focada em cumprir o Acordo de Paris.

Este artigo quer, fundamentalmente, chamar a atenção para o outro lado da medalha no que concerne ao tópico das transições energéticas. Por um lado, as políticas nacionais são promotoras da sustentabilidade e da ecologia, onde as grandes empresas de energias renováveis consolidam os seus negócios e indústrias. Por outro lado, esta transição energética (“mais amiga do ambiente”) tem um efeito negativo nas pequenas comunidades e nas suas tradições socioculturais.

O caso da minoria Sámi (Figura 1), no território norueguês, é um exemplo deste paradoxo entre os benefícios das energias verdes e da sobrevivência da comunidade Indígena.

Figura 1: Mulher Sami perto de um rebanho de renas. Fonte: Ever-Changing Sami Livelihoods; Historical Discourses towards Modernity Described from a Biopolitical and Geopolitical Perspective, 2018.

A construção de vastos parques eólicos, que atravessam o território destinado ao pastoreio de renas (Figura 2), constitui um exemplo flagrante de como uma transição verde abrupta e forçada põe em risco uma das principais actividades desta comunidade (Figura 3). Por outras palavras, a instalação de centrais eléctricas ameaçam a continuação da pastorícia dos rebanhos de renas e das tradições Sámi.

igura 2 : Mapa mostrando a localização de dois parques eólicos dentro do território Sámi. Fonte: The Conflict between a ‘Green Economy’ and Indigenous Livelihoods: A Norwegian Case., 2021
Figura 3: Parques eólicos ocupando a pastagem dos pastores de renas Sámi. Copyright: Heiko Junge / NTB / AFP

O Povo Sámi, há muito estabelecido no Norte da península Escandinava e de Kola, tem um passado de colonialismo onde foi assimilando costumes ocidentais. A imposição do colonialismo foi uma ameaça à continuidade desta minoria. Porém, as comunidades têm sido resilientes e capazes de arranjar soluções para manterem a sua identidade e cultura. Com efeito, em 1989, foi criada a Lei Norueguesa Sámi onde o governo norueguês tem o dever de garantir que a cultura das comunidades Sámi é protegida e devem assegurar o bom funcionamento da Assembleia Sámi. Para além disso, também o governo tem de garantir que a comunidade é ouvida antes de tomar decisões para o país.

Desta forma, no artigo são analisadas entrevistas a pessoas (Sámi) ligadas à actividade da pastorícia de renas e é feito um balanço do impacto que a instalação de campos eólicos tem na comunidade. Paralelamente, é possível verificar um sentimento de falta de compromisso do governo norueguês para com os Sámi e de como esta comunidade quer continuar a lutar para ser ouvida.

Concluindo, a transição para energias mais verdes pode e deve ser feita, mas deve incluir  as comunidades Indígenas que vivem dentro dos territórios soberanos. A inclusão da voz dos Sámi neste processo é fundamental para que a transição energética seja, de facto, para todos. É também importante alertar para os perigos de exclusão das minorias de forma a ajudar a criar uma opinião pública bem informada e capaz de reconhecer que as comunidades também têm o direito de ser ouvidas e salvaguardadas pela justiça.

Referência: Normann, S. (2021). Green colonialism in the Nordic context: Exploring Southern Saami representations of wind energy development. Journal of Community Psychology, 49(1), 77–94. 

https://doi.org/10.1002/jcop.22422

Autor: Santiago Villalobos Dantas

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