Propriedades químicas do veneno de várias espécies de polvo do oceano antártico

O estudo da biologia molecular de organismos marinhos é essencial para o desenvolvimento de estratégias de conservação destes e de todo o ecossistema. Por essa razão, não só devemos perceber como os diversos organismos se relacionam entre si e com o meio em redor, mas também de que “ferramentas” estes usufruem para procurar habitat, caçar, procurar parceiro sexual, entre outros. No caso de algumas espécies de polvo, o veneno presente na saliva constitui uma dessas “ferramentas”.

Este veneno é produzido nas glândulas salivares e composto por cefalotoxinas (Ctx), uma mistura proteica com a capacidade de inibir a coagulação sanguínea, de paralisar e de digerir externamente as presas. A variação na composição química do veneno e na morfologia dos órgãos associados este, sugerem um mecanismo evolutivo fortemente associado à importância que o veneno apresenta para a ecologia alimentar de uma espécie (preferência de presas, estratégias de predação, etc.).

Localização das glândulas salivares produtoras da saliva tóxica num espécime de polvo.

Geralmente, os compostos enzimáticos dos venenos apresentam uma atividade ótima a temperaturas próximas dos 30 °C, baixando rapidamente a sua atividade a temperaturas inferiores a 10-20 °C. Por essa razão, estudar o veneno dos polvos do oceano antártico, onde a temperatura da água ronda os 0 °C, constitui uma oportunidade única de perceber como o veneno evoluiu e se adaptou às condições ambientais extremas e qual a sua importância para a ecologia das espécies.

Para além dos estudos evolutivos e ecológicos, a investigação a nível molecular deverá revelar informações cruciais relativamente às propriedades químicas do veneno, potencialmente valiosas em aplicações futuras em diversas áreas, como por exemplo a Farmacologia.

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Fonte: Undheim, E. A. B., Georgieva, D. N., Thoen, H. H., Norman, J. A., Mork, J., Betzel, C., & Fry, B. G. (2010). Venom on ice: First insights into Antarctic octopus venoms. Toxicon, 56, 897–913. https://doi.org/10.1016/j.toxicon.2010.06.013

Autor: Ricardo Matias

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