As espécies de lulas do Oceano Austral desempenham um papel crucial no ecossistema, atuando como ligação entre os níveis tróficos inferiores e os predadores de topo. Apesar da sua importância, os estudos sobre a abundância, idade e crescimento das lulas do Oceano Austral são limitados. Os métodos tradicionais de estudo da idade e do crescimento dos cefalópodes requerem a captura de indivíduos vivos, o que é um desafio para as lulas oceânicas de grande mobilidade. No entanto, os bicos dos cefalópodes, que crescem ao longo da vida de um indivíduo, podem ser facilmente recolhidos dos estômagos dos predadores e utilizados para estudar a idade e os padrões de crescimento.
Os autores centram-se na lula Moroteuthopsis longimana, que é uma das principais presas dos predadores do Oceano Austral e que já foi objeto de estudos sobre a sua idade e crescimento utilizando diferentes técnicas. O estudo tem como objetivo avaliar a viabilidade da utilização de bicos recolhidos dos estômagos de predadores, como o bacalhau da Antártida (Dissostichus mawsoni), para determinar a idade e o crescimento de M. longimana e estimar os padrões de idade e crescimento desta espécie em diferentes áreas do Oceano Austral.
O estudo concluiu que os bicos recolhidos dos estômagos dos predadores podem ser utilizados para estudar a idade das lulas do Oceano Austral, especificamente da espécie M. longimana. A secção sagital do rostro (RSS) do bico inferior foi considerada a secção mais fiável para a estimativa da idade (Fig.1), uma vez que apresentava micro-incrementos legíveis que podiam ser contados, enquanto os bicos superiores apresentaram incrementos altamente compactados, sendo muitos deles indistinguíveis. Também se estimou que M. longimana pode viver até 820 dias e pode eclodir ao longo de todo o ano, tendo mostrado uma taxa de crescimento consistente desde a eclosão até à morte, com pelo menos um período de crescimento mais rápido. Um novo padrão de ciclos regulares, composto por 7-10 incrementos mais claros seguidos de um mais escuro, foi encontrado na região médio-anterior do RSS (Fig.2b). Foram observadas diferenças na taxa de crescimento e no tamanho atingido na mesma idade entre indivíduos dos sectores Pacífico e Atlântico do Oceano Austral, sugerindo a influência de diferentes condições ambientais.


Portanto, os bicos recolhidos dos estômagos dos predadores podem ser usados para estudar a idade e o crescimento das lulas do Oceano Austral, especificamente de Moroteuthopsis longimana. No entanto, os autores destacaram a necessidade de investigação futura de forma a validar a periodicidade da formação de incrementos em lulas de águas frias e profundas, considerando o impacto das condições ambientais no crescimento de M. longimana.
Referência: Queirós, J. P., Bartolomé, A., Piatkowski, U., Xavier, J. C., & Perales-Raya, C. (2022). Age and growth estimation of Southern Ocean squid Moroteuthopsis longimana: can we use beaks collected from predators’ stomachs? Marine Biology, 170(1).
https://doi.org/10.1007/s00227-022-04156-2
Autor: Diogo Francisco