As lulas são pelágicas e alimentam-se de uma variedade de presas, incluindo peixes, cefalópodes e crustáceos, com a sua dieta a mudar ao longo das suas vidas. Desempenhando um papel fundamental no ecossistema do Oceano Austral, servindo de presa para inúmeros predadores, incluindo baleias, focas, aves marinhas e peixes, com cerca de 34 milhões de toneladas de lulas sendo consumidas anualmente nesta região. Considerando a sua importância no ecossistema do Oceano Austral, este estudo analisa a dinâmica ecológica a longo prazo de cinco espécies-chave de lulas ao longo das últimas cinco décadas. O estudo foca-se em como estas espécies de lulas se adaptaram às condições ambientais em mudança, particularmente o Índice de Oscilação Sul (SOI) e o Modo Anular Sul (SAM), analisando os valores de isótopos estáveis (δ13C e δ15N) em bicos de lulas encontrados na dieta de albatrozes-errantes.
O estudo encontrou mudanças significativas no habitat de quatro das cinco espécies de lulas, conforme indicado pelas alterações nos valores de δ13C. Isto sugere que estas espécies mudaram as suas distribuições geográficas ao longo do tempo, provavelmente em resposta às alterações ambientais. Taonius sp. B, Gonatus antarcticus, Galiteuthis glacialis e Histioteuthis atlantica mostraram todas mudanças no habitat, deslocando-se para regiões mais a norte ao longo das décadas. Moroteuthopsis longimana (Figura 1) foi a única espécie que manteve um uso consistente do habitat, indicando uma tolerância potencialmente maior às mudanças ambientais.
Apesar das mudanças no habitat, os níveis tróficos de todas as cinco espécies de lulas, conforme concluido pelos valores de δ15N, mantiveram-se relativamente estáveis durante o período de estudo. Isto sugere que os seus papéis na cadeia alimentar não se alteraram significativamente, mantendo a sua importância como presas de predadores de topo.
Das cinco espécies, apenas Taonius sp. B mostrou uma correlação significativa entre os seus valores de isótopos e os índices ambientais (SOI e SAM), indicando que estes fatores climáticos influenciaram diretamente o seu nível trófico e habitat.
O estudo sugere que, enquanto as lulas do Oceano Antártico alteraram o seu habitat em resposta às condições ambientais em mudança, os seus papéis tróficos permaneceram estáveis. Esta adaptabilidade poderá garantir a sua contínua importância no ecossistema do Oceano Austral, mesmo com o progresso das alterações climáticas. Os resultados destacam a potencial resiliência destas espécies à variabilidade ambiental e o seu papel crítico na cadeia alimentar marinha. Este estudo fornece informações valiosas sobre as respostas ecológicas de espécies-chave de nécton no Oceano Austral, o que poderá ser crucial para prever futuras mudanças no ecossistema devido às alterações climáticas em curso.
Referência: Abreu J, Phillips RA, Ceia FR, Ireland L, Paiva VH, Xavier JC (2020) Long-term changes in habitat and trophic level of Southern Ocean squid in relation to environmental conditions. Sci Rep
DOI: 10.1038/s41598-020-72103-6
Autora: Sara Santos