Projeção dos impactos futuros das alterações climáticas na distribuição de lulas pelágicas no Oceano Austral

Este estudo avalia como as alterações climáticas podem alterar a distribuição das lulas pelágicas no Oceano Austral. Utilizando modelos de distribuição de espécies (MDS), os autores projetaram a adequabilidade futura do habitat para 15 espécies de lulas em dois cenários climáticos (SSP1-2.6 e SSP5-8.5) para os anos de 2050 e 2100.

Os modelos indicam que o aumento da temperatura da superfície do mar e o recuo do gelo marinho (aspetos-chave do aquecimento dos oceanos) são os principais impulsionadores das alterações das condições do habitat. Outros fatores, como a concentração de clorofila (um indicador da produtividade primária), também desempenham um papel importante.

As respostas específicas de cada espécie incluem potenciais vencedores e vencidos:

Potenciais vencedores: as espécies de lulas subtropicais e cosmopolitas (p. ex.: Histioteuthis atlantica, Teuthowenia pellucida, Todarodes filippovae e Bathyteuthis abyssicola) podem ganhar habitats adequados, especialmente em latitudes mais elevadas (Figura 1).

Figura 1 – Alterações na distribuição de habitat das espécies subtropicais em 2050 SSP5-8.5 e 2100 SSP5-8.5 em relação ao presente, e gradiente latitudinal de adequabilidade de habitat dos cenários presentes versus futuros. No gráfico de tendências, a linha vertical cinzenta é o limite para a presença de espécies

Potenciais vencidos: Em contraste, a espécie Antárticas e muitas subantárticas (como Onykia ingens, Onykia robsoni, Martialia hyadesi, Gonatus antarcticus, Histioteuthis eltaninae, Slosarczykovia circumantarctica, Mesonychoteuthis hamiltoni, Alluroteuthis antarcticus, Galiteuthis glacialis, Psychroteuthis glacialis, e especialmente a Moroteutopsis longimana) deverão perder uma parte significativa do seu habitat atual (Figura 2).

Figura 2 – Alterações na distribuição de habitat das espécies antárticas em 2050 SSP5-8.5 e 2100 SSP5-8.5 em relação ao presente, e gradiente latitudinal de adequabilidade de habitat dos cenários presente versus futuro. No gráfico de tendências, a linha vertical cinzenta é o limite para a presença de espécies.

Além disso, o estudo descobriu que os limites a norte da distribuição de lulas devem mover-se para sul ao longo do tempo, com uma redução dos pontos críticos de biodiversidade, o que pode alterar a estrutura do ecossistema pelágico. As alterações na distribuição das lulas podem ter efeitos em cascata por toda a cadeia alimentar do Oceano Austral, causando impacto nos predadores como aves marinhas, focas e cetáceos que dependem das lulas como principal fonte de alimento.

Os autores observam incertezas relacionadas com a resolução dos dados ambientais, a falta de interações tróficas nos modelos e a amostragem limitada em áreas remotas. Sugerem que estudos futuros incorporem dados a uma escala mais fina (incluindo a profundidade como terceira dimensão) e informação biológica mais abrangente para melhor informar a conservação e o planeamento espacial marinho.

No geral, o artigo fornece projeções essenciais para compreender possíveis alterações na biodiversidade marinha devido às alterações climáticas e destaca a importância de considerar estas alterações nas estratégias de conservação para o Oceano Austral.


Fonte: Guerreiro, M., Santos, C. P., Borges, F., Santos, C., Xavier, J. C., & Rosa, R. (2025). Projecting future climate change impacts on the distribution of pelagic squid in the Southern Ocean. Marine Ecology Progress Series, 757

Autor: Sara Santos

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